Um sopro calmo do vento e vejo minha página sendo virada. Alguns pingos caem naquelas que ainda estão amareladas como papiros e linhas movem-se para serem desenhadas. Mesmo sabendo que voltarão à página anterior, pois os ventos de Arcádia hão de trazer o entoar das vozes de desafiados que ainda estão buscando findar o Desafio e tantos outros que ainda buscam imaginar como fazer-lo. Mas voltemos nossos olhos a esta nova página e deixe-me mostrar a vocês uma história que eu ouvi um dado momento.

– “Ele está lá, em algum lugar.” – Os pensamentos mantinham-na centrada em uma pessoa, a qual não conhecia sequer o rosto. Mas, aqueles olhos verdes mostravam-se à sua mente a cada adormecer, em cada momento que seus olhos perdiam-se em pensamentos, deixando corpo e mente agirem por intuição.

Os dedos passeavam devagar às capas dos livros que a chamaram, sussurrando-lhe aos ouvidos que necessitavam ser comprados. Ela sabia que eles seriam necessários, mesmo tendo folheado-os tão pouco e sequer adquirido os conhecimentos que ali haviam.

Sabia de princípios básicos, necessários para a compreensão de um todo, de uma lógica que poucos enxergavam, assim como sabia que o caos que habitava sua alma encontraria uma resposta para tudo aquilo. Só que antes precisava encontrar aqueles olhos e deixar a alma reconhecer aquele olhar.

Anos passariam e seus olhos jamais deixaram de buscar aquela pessoa. Os lábios murmuraram aos ventos: – Onde estás? Por que não o encontro?
E a cada busca, o coração se feriu e a alma agarrou-se a esperança.

Grilhões fecharam ao redor dos braços e do corpo e muitas vezes a emoção falou mais alto. Mesmo a intuição superando a breve insanidade, fazendo-a recordar-se dos olhos que tanto buscava, a sensação do vazio deixava claro que aquilo ainda não havia findado.

Quedas, arrastares, grilhões mais apertados e prantos derramados. A esperança implorava à intuição que se centrasse naquilo que buscava. Quando o mundo estava extremamente obscuro, levando a esperança cair em prantos nas mãos da insanidade, a intuição viu algo que fez o coração daquela pessoa disparar.Tantos outros percalços aconteceram. Quão árduos foi o escalar daquelas paredes que feriam braços, pernas, pele, olhos e coração.

O corpo todo gritava a cada momento que uma pedra parecia ruir sob os dedos e garras pareciam querer cravar as costas daquela pessoa para mais uma vez puxar e prender-la a pesados grilhões.

A esperança renovada, encontrava forças nas mãos da intuição e quão bravas lutaram, não apenas para fazê-la ter certeza de que sua busca havia findado, mas para fazer com que o dono daqueles olhos compreendessem que a busca dele também havia terminado.

Murmúrios, toques, sorrisos, inspirações…
E então ela compreendia.

Grande parte daqueles conhecimentos básicos, daqueles livros adquiridos, grande parte de tudo aquilo foi necessário ser aprendido não para ela saber como direcionar a própria intuição, mas sim para despertar a intuição de quem ela tanto buscara.