Os ventos andam inquietos em Arcádia. Sopram de uma forma que não estou acostumado. Sinto minhas páginas revirando de um lado para o outro. Escuto fadas murmurando. Se fosse uma pessoa, talvez levasse a mão ao estômago e o sentiria revirando.
Inquietude… Rainha? – Minhas páginas clamam por ela e com um simples toque da ponta dos dedos de quem está com o olhar tão distante, compreendo que ela está a buscar pelo Rei Troll.Um rebuscar de ar mais forte parte de seus lábios, como se a mesma estivesse mergulhada na magia que os envolve, minhas páginas que são amarelas das lembranças outonais, ganham as cores verdes das pradarias do Reino ao qual pertenço.
Um suave frisson e deixo as linhas começarem a se desenhar.

Os olhos se fechavam ao escutarem aquela melodia. Os sorrisos surgiam aos lábios e as cores pareciam mais acentuadas. Não havia discórdia, desconfiança, orgulho ou afins. O azul era mais intenso, desde o mais pálido que tocava o céu, até o mais escuro profundo do mar. O verde se intensificava das relvas que cobriam aquelas terras, às copas das mais altas árvores. As cores se misturavam sem possuírem inveja e a maciez reinava ao toque dos dedos, dos lábios e pele. O tudo era o tudo e o nada era o nada.

Um dia outro som fora ouvido e os ventos gélidos sussurraram nomes. As cores ficaram um tempo confusas, não querendo mais se misturar. A terra tremia ao escutar aquele choro e com calma resolveram se aproximar. Mornos ventos eles levaram, observando aquelas crianças que naquele reino chegaram. A canção proveniente daqueles lábios, mesmo tão nova descompassou os corações. O temor foi despertado e aqueles olhos curiosos ganhavam mais atenção. Questionamentos foram erguidos, não pelos antigos, mas pelas novas criações. As vozes que antes não passavam de choro, cresceram mais fortes que os trovões.

E na primeira vez que o questionaram, banidos foram daquele reino. Mas não muito tempo a raiva permanecera em quem antes cantava tão soberano, afagara os cabelos dos jovens rebentos. Tanto poder lhes foi dado que os antigos sentiram-se angustiados.

A discórdia havia sido semeada e logo o vermelho reinou. O som de espadas e lanças propagou e fortes tempestades atingiram os pequenos.
Aquela guerra entre os arcanos se propagou e a morte cresceu no reino do Soberano. O vermelho se intensificava no sangue derramado pelos mais velhos. Assistiam a tudo, os mais novos, não temendo manter sues olhos abertos para tudo aquilo que criaram com sua chegada. Seus olhos banharam-se com aquele sofrimento e o ardor da batalha teve seu preço.

Lágrimas antes doces tornavam-se salgadas e o sofrimento mais intenso se instalou em suas almas.

As cores não mais entravam em acordo e os sons disputavam entre si. Quão triste foi aquela batalha, que lançava ao exílio os antigos que se rebelaram.

Culpa e vergonha assolou alguns corações. Raiva e discórdia tantos outros mais. Mas há aqueles que choraram lágrimas salgadas e estes…

Não se recordam de mais nada.