O trotar do corcel dava-se de forma rápida, enquanto o cavaleiro levava em seus braços a moça desacordada. Seus olhos agora escuros, firmavam-se na noite e ao longe as luzes dos archotes no vilarejo pareciam chamá-lo. Escutava o coração fraco que batia querendo se entregar, sentia nas pontas dos dedos a pele fria da moça de cabelos dourados. Rangia os dentes, precisava aquecê-la, precisava que ela vivesse. Não podia deixá-la morrer daquele jeito. Não daquela forma.

– Rápido Akashi… Rápido…
O Corcel começava a passar pelas vielas do vilarejo e a guarda local vê Cavaleiro e dama, baixando suas lanças e puxando suas espadas devido a demasiada pressa que o rapaz se encontrava.

– Alto lá! Quem se apressa desta forma nesta hora amaldiçoada?
Gritava o capitão da guarda, fazendo com que o puxar das rédeas parasse o corcel bastante arredio. Com um sorriso fraco nos lábios, aquele rapaz respondia para os guardas:

– Apenas um marido preocupado com a amada esposa!
Os guardas observavam o jovem casal e prontificavam-se em levá-los ao castelo ou aos médicos da guarda no vilarejo. Mas para o rapaz, tal prontificação não era bem vinda, o corcel ficava cada vez mais arredio e o rapaz range os dentes por um momento.

– Passarei a noite zelando por minha Senhora! Se ao raiar do dia a situação dela piorar, me prontificarei no local indicado. Deixai que eu passe, para que assim possa cuidar de minha senhora!

Os guardas dão passagem ao rapaz, um pouco desconfiados devido a moça desacordada e o rapaz estarem visivelmente feridos. Abrem a passagem para que o “marido” cuidasse de sua “esposa”, um tanto quanto arredios. Mais uma vez o galopar do corcel se fazia presente, levando o rapaz até o que parecia ser uma casa. Uma casa que possuía mais de um patamar, que diria que o rapaz era um nobre, ou um homem de muitas posses. O corcel é rapidamente desmontado e a porta faltava ser arrombada no entrar daquele rapaz, que agora entrava na casa carregando a jovem escadas acima, adentrando em um quarto pouco depois. O Sol já começava a despontar, quando ele a repousava em um monte de feno, afastando os cabelos dourados da face da jovem desacordada. Encostava a cabeça ao peito da jovem, respirando aliviado ao notar que o coração dela ainda batia, mesmo que de modo fraco. Afasta uma das mechas douradas que cobriam a face pálida que ela possuía, observando por um tempo os traços da garota maldita.

– Recupere-se, chapeuzinho, pois a noite teremos contas a acert…
Uma dor lacerante toma conta do corpo do rapaz fazendo-o se afastar. Seus músculos pareciam queimar, quando ele se encolhia em tamanha dor. Deveria tê-la matado. Deveria ter aproveitado que ela estava frágil. Mas algo nele o impedia de ferí-la se ela estivesse indefesa como ela se encontrava naquele momento. Os olhos dele erguem-se para ela. Os músculos pareciam ser dilacerados como se fisgados por ganchos. Ganchos que o recordavam que ela era culpada por ele sentir tudo aquilo. Os dentes rangiam com extrema força, enquanto ele erguia-se e caminhava cambaleante para a porta batendo-a com força e trancando a moça. O respirar arfado e as mãos apoiadas na porta, pareciam fazer-lo lembrar que ainda estava consciente. Começava a se afastar no corredor, com a mão fechada em volta da chave que trancafiava a moça naquele quarto, no mais alto patamar, que aquela casa possuía.

– À noite Chapeuzinho… À noite não tardará a chegar… A noite isso tudo há de acab…
A dor mais uma vez tomava o corpo do rapaz, de uma forma mais dolorosa que o punhal de prata poderia proporcionar a ele, como todas as vezes que teve um embate com a moça de cabelos dourados. Um baque surdo poderia ser escutado naquele corredor, Enquanto o dia começava naquela casa, onde os raios agora entravam pelas janelas, iluminando os corredores, iluminando os quartos. Iluminando dois corpos desacordados.