O corpo dela começava a ficar aquecido. Por um momento, ela poderia pensar que estava apenas tendo um pesadelo, mas os acontecimentos passados não deixariam que ela ficasse muito mais tempo agradecendo aquela sensação de calor que começava a aquecer sua pele. Os olhos se abrem repentinamente e o ar é rebuscado, enquanto ela tentava se recobrar e descobrir onde estava. O corpo estava dolorido, devido ao frio intenso ao qual ela foi submetida na noite anterior.
– não… não…
Ela tentava abrir a porta trancada. Estava presa naquele lugar. A Janela também não se abria, devidamente selada para evitar uma fuga inesperada. Os olhos dela buscavam um meio de fugir, se ela estava trancada, isso significava que mais tarde encontraria seu algoz. Precisava fugir.
– Mas como?
Murmurava, enquanto vislumbrava as vielas que estavam lá embaixo. Estava aprisionada no local mais alto daquela casa. O ar escapa dos lábios, indicando uma aparente desistência, fazem com que os olhos claros dela, vislumbrem o telhado. Havia uma esperança…
As mãos delicadas afastam o feno bem amarrado usado para fazer o telhado da construção. Aos poucos o corpo vai saindo por sua única e insana saída. Com cuidado, ela vai chegando a beirada da construção. buscando uma janela qualquer que não voltasse para sua prisão. Os olhos encontram o que ela tanto buscava e com cuidado ela descia do telhado, para testar aquela janela um batente, deveras fino, mas ela tinha que tentar. Mas algo chama a atenção da jovem. Aquela janela, dava acesso a um corredor e naquele corredor, ela pode vislumbrar o corpo do Jovem rapaz caído, e a chave bem próxima da mão dele.
– Piotr!
Murmura de forma baixa, espantada ao confirmar que estava no lugar errado e que ela devia sair dali. Mas os pés dela escorregam e ela sente o corpo caindo. Um grito contido perde-se em seus lábios, quando o corpo jazia pendurado pelas pontas dos dedos que se agarraram ao fino batente. Não havia nenhum outro local para se apoiar, os olhos dela observam a viela tão distante de seus pés.
– Não… não.. eu não posso morrer assim…
Murmurava, sentindo os dedos fraquejarem, mas um baixo relinchar chama sua atenção e o breve momento de felicidade se esvai, assim que os dedos escapam do batente da janela. O baque foi um tanto quanto forte e o relinchar alto o suficiente para chamar a atenção da guarda que estava ali por perto. O Corcel se ajoelhava nas patas dianteiras, e depois nas traseiras, deitando-se ao lado da moça que respirava de forma entrecortada. Relinchava de forma baixa e outro corcel se aproxima da moça e de sua montaria. Por um tempo ele bate o casco e a guarda se aproxima.
– Pelo Nosso Senhor!!! Você está bem Milady?
Eles se aproximam dela com cuidado e olham para cima, não sabiam o que tinha acontecido, pois a janela estava fechada e a moça respirava de uma forma como se tivesse levado uma queda muito grande.
– Moras aqui?
Ela apenas meneia a cabeça em negação e com cuidado um dos soldados, pega a jovem no colo, levando-a para o forte. Outro soldado, se preocupa em trazer o corcel que estava deitado ao lado dela. Por um tempo observa que o corcel seguia devagar.
– Você aparou a queda dela?
Pergunta o soldado para o corcel, que relincha de forma baixa, agitando a cabeça para cima e para baixo.
– Você parece me compreender, mas seu eu disser isso para os outros eu perderei ao meu posto.
Moça e Corcel, são bem cuidados pelos soldados, estranhavam os ferimentos e tentavam descobrir quem ela era e de onde viera. Perguntavam a ela se o rapaz que morava no casarão, onde ela foi encontrada, era o marido ou noivo dela e apenas o menear da cabeça em negação eles obtinham como resposta. Resolveram deixar ela descansar por um tempo. Mas os olhos dela pareciam se perder nas tonalidades que o céu ia tomando durante o dia, mantendo-se silenciosa. Os guardas conseguem uma informação dos outros que fizeram a vigília no turno da madrugada. Aquela moça tinha realmente chegado ao vilarejo na companhia do rapaz que morava no casarão. Mas quando resolvem a interpelar, não encontram mais a moça. Ela galopava de forma rápida para a Floresta Negra novamente, precisava chegar ao centro da Floresta, precisava encontrar a Velha que conhecia todas as maldições.
Enquanto a guarda buscava a moça pela cidade, o jovem despertava naquele corredor, a noite se aproximava mais uma vez e era hora de haver um acerto de contas. A mão alcança a chave e o corpo é arrastado nas paredes do corredor, enquanto ele avança os passos. O jovem tenta focalizar mais a visão, enfiando a chave na fechadura. Arfava. Ali atrás daquela porta estava o fim de seus problemas e agora ela estaria em condições de morrer de forma digna. Os dentes rangiam, os olhos começavam a querer variar de tom. Com calma ele abre a porta e a surpresa veio com tanta força quanto um punhal cravado em seu coração.
– Não.. NÃo… NÃÃOO!!!
Os olhos dele buscam. Buscam de forma desesperada pela moça que deveria estar ali. Um vento alcançava seu rosto e os olhos dele podem vislumbrar por onde ela fugiu. Em sua fúria ele alcança a janela, arrancando as madeiras que a selavam. Olhava para baixo. Nada. Nenhum corpo sequer. Sentia a dor em todo seu corpo, os olhos começavam a tomar o tom amarelo, que a jovem de cabelos dourados tanto temia quando os vislumbrava.
– SAAAAAARAAAAAAH!!!
Aquele grito ganhava o ar, ele precisava se controlar. Ela não podia estar longe, não tinha como ela descer ilesa daquele lugar. Respirava ofegante tentava se acalmar, a guarda do vilarejo deveria saber sobre ela, ela deveria estar com eles, se estivesse ferida. Pois se não estivesse, ele saberia muito bem onde procurar.