Nesse belo dia, seja de sol, seja de tempestades, o Rei Troll abriu diante dos olhos da Rainha um livro negro que emanava sombrias verdades. Suas páginas com aspectos carcomidos, estalavam desejando a magia para reavivar os monstros que ali existiam.
Pôde notar tão bela Rainha, a imagem de um belo príncipe em seu garanhão. O Rei Troll a olhava de soslaio, pois sabia ele, que o livro que tinha em mãos, seria capaz de capturar a imagem que ele possui para lançar diante dos olhos de sua Rainha. Sabia também que as palavras ali contidas eram capazes de gerar ferimentos mortais. Temia. Sim, o soberano Rei temia, pois sabia que os olhos da Rainha eram diferenciados dos demais aventureiros que em Arcádia passavam adentrando no Palácio Elétrico que habitavam. E aos olhos de minha Rainha, o Rei Guerreiro pôde perceber as linhas que em minhas páginas foram se desenhando.

Em um reino distante, havia um Rei e uma Rainha. O reino que habitavam possuía grandes festas, pois o caos havia sido vencido e ambos poderiam reinar da forma que a matriarca desejava. Três filhos foram gerados, onde a primogênita vivera por quase cinco anos soberana em suas vontades. Ali começava a história de um reinado que aos poucos fora mostrando suas verdades e os contos de fadas, tão bem conhecidos, deixavam de existir.

Quando os outros dois nasceram, a primogênita logo percebeu que muitas batalhas estavam para se iniciar. O Rei tentava mimar seus filhos, enquanto a Rainha tentava mantê-los com os pés ao chão. O Rei fizera castelos em nuvens e a Rainha fizera seu Reino ao chão. O Rei teve sua vida ceifada e a Rainha…

Ainda é possível sentir e lembrar-se do coração batendo forte e dos ferimentos profundos que a Rainha cicatrizara sozinha…

Ah! Terríveis batalhas que foram se assomando, onde a primogênita deixara de ser criança forjando-se adulta. Castelos encantados viviam em sua imaginação e a vida chicoteava-lhe as costas, moldando o corpo para suportar sua nova condição. Sonhos eram estraçalhados. Grilhões eram colocados e por muito tempo a primogênita deixava de viver. Tornou-se um espelho, refletindo aquilo que os outros gostariam de ver. Seu brilho evanescia à medida que crescia vendo aos livros de estórias, príncipes encantados em seus garanhões formosos. Via-os salvando e resgatando as princesas aprisionadas. Sorria de modo fraco, desejando que aquilo fosse realidade. Mas à medida que crescia, os que se diziam príncipes mostravam-se sapos ou apenas feridas profundas à alma e ao coração.

Quantas vezes chorou e olhou ao horizonte, pedindo não um príncipe mas alguém que a resgatasse, que curasse as feridas antes que deixasse de acreditar em magia.

Viveu por longos anos, deixando a vida ser levada pelo vento de um lado ao outro, tal qual navio a adernar. Seu brilho tornou-se mais fraco e as esperanças chegavam ao fim com golpes de outros supostos príncipes encantados em suas falsas e tolas promessas.

A primogênita murmurou mais uma vez de cabeça baixa com a última faísca de esperança e nem mesmo o som de batalhas ferinas pareciam despertá-la de sua apatia. Seus grilhões foram rompidos, seu corpo retirado das sombras, seu coração batendo acelerado tentava dizer e mostrar quem ali se encontrava. A respiração descompassada e o choro que lhe apertava a garganta, abria-lhe os olhos ainda opacos que viam aquelas feições e aquele corpo tão ferido por batalhas.

Ainda é possível sentir a dor de outros golpes invejosos que buscavam acertar aquele casal que o mundo tentava tão ferozmente ferir. Mas ali, em meio às carícias de dedos tão cuidadosos, era percebido que os ferimentos da primogênita estavam sendo tratados, e o mais admirável brilho surgiu com as palavras do nobre guerreiro que ainda temia a reação da primogênita.

– Não irei fazer promessas falsas para ti…
Um belo sorriso fora presenteado ao guerreiro quando a primogênita, mesmo fraca e tão ferida, envolveu-o em seus braços, murmurando.
– Estás aqui. Não são sonhos. Estás aqui, meu amado, meu Troll.