Os dedos viravam as páginas, que se mantinham amareladas até então. Não só minhas páginas eram viradas, como a capa de um livro mais antigo era observada. Sabia o quanto o dia de hoje a deixava apreensiva. Os passos de minha Rainha estavam apressados, a respiração acelerada e eu, o livro que tem uma alma mais forte que meu antecessor, sabia o quanto o coração dela estava disparado.
Os prados de Arcádia mais uma vez desejavam adentrar as portas do Palácio Elétrico e ela se mantinha arredia. Eis que elas se abriram naquele dia frio e estranho para mim e o calor de um sorriso e um abraço forte, mostraram um dia radiante que meu Rei ofertava à sua Rainha.

Lançava a mão sobre a fronte daquele corpo frágil, sentindo-o quente e febril. Ela havia passado a noite inteira naquele estado em que seus músculos tremiam em espasmos violentos. Seus olhos mantinham-se preocupados, zelando por ela e o cansaço não podia vencê-lo. A fogueira se encontrava apenas em brasas e o local úmido e frio em nada ajudava. Respirava fundo, pois ela ainda delirava e sua mente possuía um único pensamento.

Não ousava sair de perto, temendo que seu afastar a deixaria suscetível a eventos externos, mas sentia-se péssimo por não poder fazer mais. Não praguejava ou amaldiçoava, por não desejar que os ouvidos de sua enferma escutasse tais palavras. As mãos esfregavam a pele clara e suada e seus olhos observavam os lábios trêmulos que sussurrava coisas inaudíveis.

Via a tira de pano com sinais claros de sangue e suspirando, afrouxou o curativo para limpar o local atingido. Agora eram suas mãos que estavam trêmulas, assim como seu corpo e segurando as mãos que pareciam tão pequenas em meio às suas, reclinou, tocando a fronte perto do ferimento.

– Estou aqui! Sempre estive! – sua voz escapava entre soluçares, deixando que as lágrimas quentes escorressem pela face. Mais uma tira era improvisada e amarrada firmemente após os devidos cuidados. Puxava o corpo frágil contra o seu, abraçando-a forte, clamando às entidades que seus esforços não fossem em vão.

Alimentava-a e a aquecia. Murmurava aos ouvidos de quem cuidava sobre os prados verdejantes que se tornavam dourados.

Sol, Lua, os dias passavam e a comida ficava cada vez mais escassa. A fogueira não mais era acesa e a água se tornava rara.

Um rebuscar de ar mais forte o alertara e os olhos dela se abriam. Castanhos, lindos, outonais. Os lábios dele tremiam, as lágrimas invadiam os olhos que brilhavam verdes e intensificados e a abraçando chorou em agradecimento. Seu corpo tremia em choros e risos baixos que escapavam de seus lábios e erguendo o corpo fraco e desperto, lançou um olhar vitorioso sobre a flecha envenenada que a atingira próximo ao coração.

Havia sido ela que sofrera o ferimento, mas fora aquele evento que abriu seus olhos e que o tornou tão determinado de não deixá-la desistir perante o veneno que circulou em seu coração.

– Feliz dia, amada Rainha, pois este dia pertence a nós!