Minha rainha estava mudada e seus olhos permaneciam obscuros em sua dor. Mas aos poucos o que pensei ser a dor da perda do Rei que aqui reinava, percebi às gotas de sangue pingadas, que não mais havia o amor condutor na valsa dos seres carregados de beleza e ferocidade. Pude perceber a floresta crescendo, tornando-se traiçoeira para os incautos que aqui compareceram. Pude ver o fino sorrir que surgia aos lábios de minha bela dama e seus murmúrios tornarem-se temíveis encantos. Ah! Quão poderoso pode ser a lamúria de uma Bean-Sidhe e quão traiçoeiros podem ser os espinhos desse novo reino. Sendo assim, o convido para mais uma vez deslizar seus olhos por minhas linhas, pois quem sabe assim, você venha sobreviver a mais este encontro com a minha Rainha.
Não mais era Troll aquele que um dia vivera em meu reino e por um tempo pude ver às areias escaldantes no que a alma dele se transfigurou. Meu ódio crescente beirava a insanidade e ergui meu dedo pensando em uma maldição. Minha essência exigia sangue derramado, um sangue poderoso para obscurecer mais ainda minha Arcádia. Mas na dor do coração arrancado e no perceber de que eu não era um mero brinquedo, sorri ao que os espinhos intoxicavam minha alma. Não me intoxicavam no intuito de matarem-na e alimentavam meus lábios com os pequenos frutos sanguíneos que cresciam e atraíam suas vítimas.
Sussurravam aos meus ouvidos a volta de minha soberania, davam ao meu corpo as necessárias cicatrizes que agora eu ostentava. Não mais soltava suspiros e sequer meu coração se angustiava. Percebi em meu sadismo, aqueles que ainda me buscavam. Novos príncipes procuravam um reinado, desejando a companhia da Rainha abandonada. Sorriam mudando as cores de seus olhos para meu agrado. Comiam das pequenas frutas mais do que deveriam, abrindo seus corpos com os meus espinhos. Alimentavam o desejo da obscura Arcádia e sorriam ao sentirem o beijo frio em seus lábios, com seus nomes murmurados.
Um a um eles caíam avançando na floresta de espinho, buscavam sobreviver com aquilo que os intoxicava ,e ali, ao meu trono eu apenas observava…
Escutava…
Esperava…
— Quão belos são os azevinhos, de sua Arcádia!