Era um belo dente. Tão belo quanto todos os outros que tinham sido entregues a ela em troca de moedas de ouro. Dentes tão belos, tão perfeitos, tão inocentes. As crianças não davam tanto valor aos dentes delas como deveriam dar. Aquela perfeição nos dentes de leite, nunca mais haveria em suas vidas à medida que elas fossem crescendo e que problemas vindouros trariam dor, trariam as chances do belo se tornar o feio. Ainda se lembrava daqueles sorrisos infantes e olhinhos brilhantes ao ver a moeda de ouro que era entregue em suas pequeninas mãos. Infantes que vinham na esperança de poder dar um pouco de conforto àqueles que os criavam e davam os caminhos que eles deveriam trilhar.

“- Está escurecendo, o caminho para a vila deve ser feito antes que a noite caia, pois há muitos perigos sobre as sombras destas árvores.”
“- Eu avisei a Fionna, Sra. O’Reilly, mas ela não me escutou…”

Ela ainda podia se lembrar do aviso que ela tinha dado para as crianças. Fionna e Ryan.

Duas belas crianças que a visitaram ainda naquela tarde. O caminho para sua cabana era perigoso, muitas crianças começavam a se aventurarem sozinhas até lá. Parecendo certas do que faziam.

– Espero que elas estejam bem.

Murmurava deixando que seus olhos repousassem novamente no dente da pequena Fionna. Há muito, a vila não era mais visitada por ela. A Floresta supria tudo que ela necessitava. Água, comida, ervas necessárias para fazer os ungüentos que alguns adultos buscavam naquela cabana que ela morava. Sorria toda vez que as mulheres da vila a procuravam em busca de algo para fazer os homens se apaixonarem, ou então para manter os maridos presos. Remédios para garantir um bom parto e crianças saudáveis. E agora isso… Crianças que a buscavam para trocar seus dentes de leite por moedas de ouro. As mesmas moedas que seus pais gastaram comprando poções feitas por ela. Riu por um momento, erguendo-se de sua cadeira e levando o pequeno dente junto com ela. Colocava-o em um pote feito em barro, totalmente dedicado a pequena Fionna. Colocando o pote ao lado de outro que era dedicado ao irmão dela.

– Sim… Sim… Aqui vocês ficarão seguros até que sua dona fique adulta.

Ela sorria. Via cada pote de barro que continha os dentes de leite de cada criança que começou a achar que ela era uma fada. Crianças que acreditavam que trocar seus dentes por moedas de ouro, traria uma vida melhor a seus pais. E O’Reilly não desencantaria os sonhos destes infantes, dizendo a eles que aquelas moedas de ouro que elas conseguiam, eram as mesmas moedas de ouro que os próprios pais tinham entregado a ela.

– RYYYAAN!!!

Mal O’Reilley virou as costas para os potes. Ela pode ouvir o espatifar do barro ao cair no chão. Seu corpo girava sobre os pés. A estante estava cedendo, ela podia ver outro pote que começava a escorregar.

– Não… Não…

O’Reilley corre em direção à estante. O segundo pote caía ao chão. Seus pés descalços sentiam os pedaços de barro rasgar a pele fina de seus pés. Deixando que seu sangue manchasse o chão.

– FIOONAAA!!!

O’Reilly grita de dor, mas consegue segurar a estante, antes que todos os outros potes caíssem. Um a um ela retirou os potes colocando-os sobre a bancada. Tinha que deixar os dentes seguros. E, depois de colocá-los em segurança, O’Reilly pode retirar os cacos de barro de seus pés. Franzia o cenho e antes mesmo de cuidar de seus ferimentos, seus dedos reviram os cacos, conseguindo pegar os dentes entre sangue e barro. Era capaz de reconhecer cada dente que ela recebeu das crianças e naquele momento seu coração disparou.

– Ryan… Fionna…

A porta de sua cabana era arrombada, O’Reilly podia ver aqueles olhos furiosos sobre ela. Suas mãos estremecem, cheias de sangue, enquanto os dentes dos pequenos Infantes caíam ao chão.

– BRUXA MALDITA!!! SEUS DIAS DE BRUXARIA TERMINAM HOJE!!!