O Cavaleiro não sabia mais porque tanto sangue lhe era arrancado, mas mantinha suas esperanças de encontrar a resistência ao invés da desistência. Sentia pena do nobre que tentava com todos seus argumentos provar que era merecedor de tanta atenção, mas não era por seus atos bravio que sua presença se tornava tão cativante, mas por sua teimosia e inocência que a Rainha mantinha sua atenção. Siga minhas linhas e você compreenderá os percalços dos caminhos que Arcádia oferece aos seus aventureiros.

Era claro aos olhos do aventureiro, que ele desejava penetrar em terrenos há tanto abandonados. Doía-me ao peito vê-lo buscando esperanças aonde não mais existiam. Sangue era necessário para abrir as correias tão enferrujadas por desamores, decepções e desilusões. Audível era por toda Arcádia o estilhaçar das correntes e o rangido melancólico que imploravam para que feridas antigas não fossem revolvidas levianamente.

— Que o Destino tenha piedade das escolhas feitas por ti… – murmurou o falcão tristemente, sabendo que sua tristeza não era bem vista pelos olhos de sua Rainha.

Não mais o cavaleiro teria a escolha de retornar seus passos, pois a própria Floresta o empurrava portões adentro do Palácio que o convidava para seu palpitante seio.

“Bem vindo!
Você entrou nas psicografias das vistas craniais.
Esse é o lugar sem tempo e sem espaço.
Não tenha medo por eu ser uma manifestação vocal de seus sonhos eternos.
Eu sou como água, como ar – Como um respiro por si mesmo.
Não tenha medo.
Olhe ao redor, mas não hesite.
Onde eu liderar, você seguirá.
Lembre bem dessas palavras.
Inflame minha raiva com sua demora e punições virão ao longo de seu caminho.
Você é uma alma da humanidade, escolhida de diferente era, antiga ou moderna.
A trivialidade de sua vida mortal não importa para mim…
Certamente, você pode morrer…
Sua única tarefa para libertar a si mesmo dessa Trama de Sabedoria, deste Labirinto de Delírio, é adentrar nos portais nucleares do Castelo Elétrico!!”*

Sentia minhas plumas se arrepiarem, pois nem mesmo eu tinha vontade de lá adentrar. Senti o sopro do vento e as canções antigas dos elfos negros que há tanto se silenciaram e respirei com alívio ao escutar aquele chamado.

— Estarás só daqui por diante, pois agora estás nos domínios do Palácio Elétrico. Este reino não mais pertence à minha Rainha, mas ao soberano que aqui domina. Siga em frente e quem sabe poderás encontrar O Andarilho, O Lorde, O Rei ou O Bufão, mas se ainda possuis alguma esperança de compreensão sobre esse Castelo que traz a morte ou a ruína das almas pandoranianas, não use mais guias, apenas use teu coração.

Os cânticos me atraíam cada vez mais, pois era na Floresta de Espinhos que todos se encontravam, mesmo silenciosos, mesmo presentes.

— Não! Aqui não é o meu lugar… – Murmurei tristemente ao abandonar aquele triste rufião.

— Há! Como podem chamá-lo de esperança e olhos dos incautos, murmurou-me o Corvo rejubiloso de sua negra vitória.

— Ele ainda guarda em si as esperanças que tive um dia, mas não mais há esperança de minha parte nos terrenos do Palácio Elétrico.

— Mas ainda carregas a esperança de uma ilusão perdida, minha doce Rainha.

— Uma ilusão que me lembra o que tanto busco meu Corvo melancólico. Não são esperanças de que a ilusão se concretize, mas escutar nas vozes dos Elfos Negros a tranqüilidade de Arcádia…

— Ainda buscas as chamas douradas que se disfarçam nas chamas esverdeadas?

— Quem sabe… Azuladas… Sim! Ainda espero o retumbar de um nome…

Grandes eram os mistérios que se mantinham no espairecer de minha Rainha, enquanto o enigmático Corvo se divertia. O Falcão fugia daquele Palácio, mas nem mesmo eu desejava mais por lá ficar… Dizem que poucos são aqueles que conseguiram escapar dos portais nucleares do Palácio Elétrico, pois muitos o interpretam de formas diferentes. Mas eis que aqui fecho a minha capa à espera de um novo sussurrar .

N.E.: * Tradução com alterações da letra “Welcome to the New Dimension – CD 1 – Into the Eletric Castle – Ayreon”