Sim. O Gato sentira aquele aperto ao coração da Rainha, mas Chronnos, encarregado do tempo que corre faceiro, sabia como retardar aquele sofrimento. Vários deuses passeiam por Arcádia e a Rainha conhece cada um deles. Suspirando percebo um breve meneio de cabeça em agradecimento e logo ela volta a observar as minhas linhas. O Gato e o cavaleiro avançavam cada vez mais longe e os risos do felino ganhavam grandes proporções.
— Rá… Vejo que sua mente fantasia emoções e que sua esperança não está morta, mas o vislumbre que tivemos não faz parte de minhas emoções. Os gatos que venha a deslumbrar nessas paragens são mais que anfitriões. Submissos? – Ri-me divertido do pobre rapaz, saltando e me aproximando traiçoeiro, com meu olhar sorrateiro.
— Humanos são tão engraçados em seus pensamentos… Não cedemos aos caprichos e tão pouco, somos submissos. Somos independentes e nobres. Somos acariciados quando bem entendemos, ou nunca percebeste em sua vida rotineira que não são vocês que nos fazem nos aproximar de vocês, mas vocês que se aproximam dos gatos.
Um pouco arrogante em minhas palavras, não podia negar que admirava a Rainha de Arcádia, mas não por submissão, mas pela curiosidade que ela me despertava. Assim como o rufião que agora me acompanhava. Mas não podia deixar de prestar uma reverência pelas sábias palavras que ele agora soltava depois de perceber o quanto o Abismo o consumia.
— Eis que surge alguma sabedoria de sua parte. Sim… – fiz uma breve pausa em meu ronronar – A Rainha não costuma ser piedosa por muito tempo.
Voltei a caminhar, vendo que o Abismo agora resolvia brincar.
— Huuum… Vejo que o Abismo que brincar um pouco de gato e rato… – Abaixei meu corpo como à espera de uma presa. Levemente balançava o meu rabo, enquanto eu ficava atento.
— O que realmente o cativa nesse obscuro mundo que se encontra? Seriam os mistérios? Seriam as dores de um coração partido? Ou quem sabe o som reverberante das lágrimas derramadas?
Saltei repentinamente, deixando minha sombra crescer e mostrar diversas formas das quais não havia apenas um gato e sorridente abati uma ave branca que não deveria estar ali.
— Servido? Eis o seu jantar… – Me satisfiz apenas com o delicioso gosto de sangue que veio ao meu palato e mais uma vez me mostrei curioso.
— Diga-me cavaleiro. Agora que o Abismo resolveu fechar as trilhas por um tempo. Que caminho você seguiria?
— Uma encruzilhada… – murmurei para a Rainha.
— O Gato está fazendo o que sempre fez, Seanchaí. Por isso sempre fomos bons amigos. – A Rainha murmurou com um sorriso e ergueu seus olhos para o Corvo.
— Não minha Rainha, o Falcão ainda não retornou com as notícias dos Elfos de Arcádia...