Os céus escureciam, trazendo ventos tempestuosos e frios.
Minhas asas estavam recolhidas e eu podia vê-lo ali tão distante de minhas asas.
A floresta crescia de forma ameaçadora. Não apenas a de espinhos, mas uma outra que avançava em suas garras, feitiços e venenos.
Havia uma aura diferente e por mais que eu gritasse, ele não me escutava.
Os tambores ressoavam a mesma coisa e meus olhos se afligiam.
Algo segurava minhas asas, para que eu não voasse até ele com a lança em punho.
Meus passos estavam cada vez mais arrastados.
O chão tornava-se lodoso, pegajoso e minha alma estremecia a cada momento que eu via a batalha entre a floresta de espinhos e aquela nova floresta que avançava.
Gritos…
Gritos…
Minha alma avançava…
E ali tão próximos deles, pude ver aquele brilho no olhar.
Um olhar escuro…
Sombrio…
Um sorriso sádico e vitorioso de quem o segurava…
Via as correntes subindo como heras venenosas…
Intoxicando-o…
Aprisionando-o…
Via-o estremecendo…
Suspirando…
Aquele brilho no olhar já não me deixava reconhece-lo mais…
Meu corpo afundava…
Tão próximo…
Tão distante…
E meus olhos ao buscarem os dele,
Vira algo que me fez estremecer.
– Não! Não! Por toda Arcádia… NÃO!!!
Meu corpo afundava, no lodoso pântano sedento e faminto, onde a água me afogava me tragando para o Abismo.
Minhas asas lutaram ao que tentavam arranca-las e então em minha batalha uma voz preocupada:
– Anjo! ANJO!
Meus olhos se abriam cansados…
Meu corpo inteiro estava suado…
Ali via, não o Rei, mas o Andarilho olhando-me intrigado e em tom baixo murmurei…
– Névoa…
– A dissipar.
——————————————-
Veja também:
A Presença de um Cigano
Penas Manchadas de Sangue – Parte I
Penas Manchadas de Sangue – Parte II
Penas Manchadas de Sangue – Parte III
Penas Manchadas de Sangue – Parte IV