Sentia aquelas mãos aos meus braços. Aquele peso esmagador ao coração. Aquele aperto à garganta. Tentei focar meus pensamentos no descobrir do que andava me deixando assim. Minha dor crescia, espalhando-se pelo Abismo, deixando alcançar aqueles que guardo e que minha alma já sabe de onde vêm essa dor.
Uma ferida antiga, de uma esperança, um sonho tão desejado.
Mas as emoções humanas são traiçoeiras, chegam a cegar quando menos esperamos e eu já sentia toda a intensidade das batalhas, de todas as mentiras deslavadas, de todas as promessas falsas, de tudo que arranca minha humanidade e que torna este anjo insensível aos humanos, ao amor, ao mundo.
Pequenas alegrias, como as que o pequeno cigano é capaz de proporcionar, obscurecem-se e perdem o sabor com o passar do tempo.
— Não perca todos seus sentimentos! – Fora algo que escutei do Príncipe da Terra das Lágrimas.
Mas ele sabe que meu tempo está cada vez mais curto…
Músicas antigas, risos antigos e um olhar dolorido nas brumas esquecidas de um tempo iludido.
— Estrela da Manhã! – Meus dentes rangem em dor, em desolação, em ver o nome dele cada vez mais visível, tais quais sinais zombeteiros do Pai sabendo como me torturar.
Estarei perto? Ou estarei cada vez mais distante? Respiro fundo, com os olhos fechados, mesmo que sofridos, deixando meus sentimentos pingarem. Escaparem de minha essência, buscando um abrigo.
— Maldito seja, Mikha… Não será desta vez que arrancarás minha sanidade. – Um respirar profundo e posso sentir o conforto de meu Reino, de meu abrigo… Do Abismo…