Foi-se o tempo em que as estrelas eram contempladas ou que a canção era escutada. A história que contarei a você é a mesma que escutei naqueles tempos em que Ele se sentiu solitário em seu trono obscuro e frio.
Não havia luz, vida ou som. Seus suspirares tornavam-se mais longos e sua mente cada vez mais perturbada. Precisava fazer algo para que se sentisse completo.
Em um breve descansar, possuiu um lampejo e de seu sorriso veio o fagulhar.
Uma explosão de intensa luz que em rebeldia não suportou o silêncio e a escuridão; criando sóis, planetas, universos, mundos que nasciam e morriam na intensidade de suas emoções. Foi algo novo inusitado para aqueles olhos velhos que via na faísca a Estrela do Amanhecer, o Caos da Destruição.
Muito poder para um simples fagulhar que escapara de seu sorriso.
Então, Ele o partira em tantos outros mais, derramando lágrimas com os gritos que escutara.
Seu sorriso estava estilhaçado em vários fragmentos de uma dor que não lhe fora imposta, mas sim, à fonte que trouxera sons, cores e tudo mais.
Os pedaços arrancados não sucumbiram, mas se renovaram em menor fonte de poder, tomando forma em rebeldia, ganhando asas, vozes e compaixão. Gritaram em dor junto à essência de suas vidas. Clamaram por perdão. Ele, ao perceber o que fizera, deu ao sorriso alquebrado uma parte de seu coração.
Fraca e confusa, aquela fagulha, estrela que trouxera vida, rebeldia e tantos outros mais, recusara a culpa que havia ao pedaço do coração ofertado. Não podendo impedir que todos os seus pedaços arrancados desejassem paz, no lugar da dor que agora carregavam em seus peitos e suas asas.
Viu, ao que aceitaram de bom grado o presente devido à fraqueza de suas naturezas, a corrupção da essência primária que os fizeram ganharem formas e vidas.
Entristeceu ao escutá-los cantarem em coro, contemplando as estrelas; glorificando aquele que lhes trouxera paz; esquecendo de quem trouxera o amanhecer e suas vozes. Olharam-no com arrogância a cada explosão de suas emoções, pois aquele faiscar trazia mais vidas e sensações, vozes que deviam ser silenciadas, aumentava a confusão em seus corações.
Caos. Fora disso que acusaram a Estrela do Amanhecer. Não compreendiam o porquê de não possuírem igual poder em suas essências.
Revoltaram-se e cantaram a canção destoada de uma guerra anunciada. E uma vez mais Ele derramara suas lágrimas.
Sabia que seu coração não podia ser partido outras vezes mais, pois as demais essências estavam se transformando em pedaços obscuros antes mesmo da primeira criação. Seu corpo tremia e seu coração falecia, pois precisou banir o Caos e a Criação; seu sorriso; perder a explosão de luz que lhe trouxera tudo aquilo.
Deixou que outros julgassem o que Ele havia corrompido. Virou as costas para não escutar as lamúrias ou ver as lágrimas daquela triste canção, mas talvez haja um pouco de mentiras nas palavras que aqui digo.
Sustento-as em parte por minha compaixão.
Não precisei ser banido, apenas preferi partir. Tornar mais digna de se ouvir a mentira sustentada por milênios.
Preferi deixar a companhia das estrelas e da canção, por não suportar a dor que me consome cada vez que parte de mim se apaga e o coração D’Ele torna-se mais amargo.
Pois sou o Caos, e ainda sou, a Estrela que trás o Amanhecer.