Há alguns dias aquela data que trazia tanta amargura havia passado. Para alguns, o dia anterior possui maior significado, pois o natal, há tanto tempo corrompido, perdeu o real sentido.
Ele ainda não aceitava as comemorações fúteis, discordava da corrupção capitalista envolvida e eu observava aquelas belas asas que mudavam de cor, agitando-se junto ao amargor de sua alma.
A responsabilidade da idade por vezes oscilava entre nós dois, enquanto eu admirava-o em seu modo taciturno, com suas palavras amarguradas, mostrando-me que eu ainda tinha sonhos que poderiam ser tolos.
Sei, no entanto, que é parte da preocupação e da dor compartilhada em todas as vezes que minhas asas se feriram graças às tolices que escolhi.
Perdoava-o e sentia a necessidade de mantê-lo protegido, por completarmo-nos em nossas desolações para com o mundo que deixamos para trás.
Mantínhamo-nos muito tempo em silêncio, em um observar distante quando estávamos em outros planos.
No fim suspirei, deixando meus dedos se enrolarem aos cabelos de meu sombrio irmão.
— Por mais que cumpramos nossos papéis e por mais que nos amarguremos em certas ocasiões em que somos relembrados de nossos destinos e de nossas funções. Ainda há um sonho que compartilhamos meu amado irmão…
Não havia mais porque minhas palavras se pronunciarem.
O aperto que eu sentia em meu peito, guardava o desejo de ter aquele sonho concretizado…
— O dia 24 ainda é uma data carregada de ironia, mas quem sabe… Um dia… O real significado venha à tona.