Correntes e grilhões, arrastavam-se pela casa. Sons de um mundo sombrio em lamuriares de dor. Gritos, risos, murmurares tresloucados. A beleza intocável quebrantara de pavor. Pavor insano que lhe botava uma máscara, trazendo gritos e clamores. Amaldiçoava-se a pobre amada que trancafiada, implorava, desejava por uma liberdade que a enclausurara da vida ilusória que antes levava.
Cada bater, cada grito. Cada arranhar, cada martírio. Cada vez que o nome do rufião era gritado, aos prantos e choro, uma apunhalada ela dava ao coração esfacelado do Pierrot. As costas dele se encontravam a porta selada e seus olhos fechavam-se na intensidade dos sentimentos que esmoreciam seus pensamentos.
Ao findar da noite quando todos em vigília observavam o recanto da insanidade e do amor, prantos baixos já não mais buscavam pelo rufião, mas pelo Pierrot que em silêncio sofria e remoia seu rancor.
– Ó escura noite que adentrara este lar, partas logo para que eu possa descansar. Leva contigo este reflexo distorcido e trás de volta a Colombina que eu amava. Trás de volta o coração que a ela pertencia. Não me deixes com esta sombra de cores disformes que amedronta e fere a alma. Acorde-me deste pesadelo, ó escura noite. Sussurre a este amante, quais dos três sangues desejas para te saciardes?
– Fala-me logo, ó traiçoeira noite, para que não mais haja sofrimento e dor. Fala-me logo e acalente esta alma que não mais reconhecerá o semblante que aguarda trancafiado por sua voz. Fala-me… Eu suplico… Quais dos três sangues desejas que seja derramado, ó traiçoeira noite?