Todos temem o silêncio, por mais que o desejem em alguns momentos.
Chego a sorrir fracamente ao pensar nos praguejos da humanidade quando colocam ao calvário o conceito que criaram sobre ele.
Deseja silêncio na hora de dormir, em seus ensaios de aproximação à morte, torna-se mal amada, amargurada, clamando por justiça em suas ameaças de cerceamento da liberdade. Caça uns aos outros que amam a vida cheia de boemia. Sente-se ferida ao olhar os sorrisos e as expressões vitoriosas daqueles que se justificam, mas torna-se inquiridora em fogos que ardem nas palavras que fecham o rito.
São momentos que mais deseja o silêncio, quando as noites se estendem com as conversas animadas, com as noites cantadas, com o descanso que deseja ser quase eterno. Cultua a morte, sem nem mesmo imaginar que está a cultuando.
Deseja o tão honrado silêncio, culpando a outra humanidade irradiada de intensa vivacidade.
Ergue aos brados ameaças infrutíferas, sentindo-se incomodada e violada, mas desejaria realmente o silêncio famigerado?
Rio baixo ao lembrar que o culto ao silêncio, tão almejado, vai por água abaixo ao se mudar para um ambiente mais silencioso. A sepulcral noite que agarra e sussurra as palavras que ela antes não ouvia por ter um local badalado logo ao lado, faz humanidade chorar em seu medo tardio, deixando os pensamentos murmurarem o quão sentem falta das noites mal dormidas.
Vejo a sagacidade em sarcasmo, rir em lágrimas divertidas, dizer à humanidade se não era isso que queria. Colocando em balança o peso das palavras com afiada e luminosa foice da complexidade do ser humano incompreensível.
Perguntando-me qual seria o silêncio que a humanidade tanto queria.
Mas ao meu peito sinto um silêncio maior retumbando, o qual me lembra a todo momento de que na obscura noite é quando mais nos aproximamos da morte.