Era chegado o momento que ele cerraria as cortinas e um basta daria à dor contínua. Deleitava-se com as dores dos amantes, mas deleitava-se mais ainda com as dores que o possuiria, pois o mundo a ele pertencia e tolos eram aqueles que achavam que lhe prenderiam.
Sim, ele buscava sua eterna Colombina, vestindo outras damas com o sorriso que apenas a ela pertencia. Vivia por um tempo em total devoção, mas o amargor que sentia o possuía sem compaixão.
Quantas ditas colombinas entraram em sua vida, com seus olhares arrogantes e sorrisos faceiros, dizendo ao rufião que seriam melhores e que não causariam as feridas que as outras um dia lhe deram.
Pierrot clamava por um sangue e deixava-se mergulhar em ciúmes que crescia fazendo rosnar o direito de posse que a ele pertencia.
Colombina ensandecida, já nem mais sabia o que acontecia. Rainha de todos os mártires, arranhava a pele e gritava que todos a ela pertenciam.
O rufião em negra cor então se aproximou.
– Não chores mais, Colombina. Não chores mais clamando por liberdade, deste corpo pequeno e fútil que conheceu a grandeza do mundo que carrego. Não chores mais, Colombina. Não chores mais. Abra teu peito para mim e clame por um fim. Implore para que eu retire o coração enegrecido que engoliste, pois em teu anseio, desejando que a ti eu amasse em total devoção, percebeste que teu amor não seria suficiente para este rufião.
– SAIA DE CIMA DELA! – Gritou o Pierrot ao perceber a morte se aproximando de sua amada donzela. – ELA ME PERTENCE!
– NÃO! – Colombina gritava segurando o rufião por cima dela – Jamais se afaste de minha vida. Jamais desapareça meu rufião. Meu Harlequin.
A saudade apertaria e a dor assolaria o peito dos amantes que ali sentiam as verdades rasgarem-lhes as faces, retirando-lhes as máscaras, enquanto em semblante frio e sem vida o rufião sabia aonde chegaria.
Pois chegada era a hora de saciar sua dama faminta. Sua verdadeira Colombina.