Jean e eu continuamos a nossa pesquisa sobre o caso Cain. Precisávamos encontrar indícios de como a Família se envolveu com aquele demônio que possuía o requinte de crueldade que Cain teve com Abel. Foram horas de pesquisas na Internet, Artigos de jornais, livros sobre ocultismo, registros históricos, tudoque foi possível encontrar para traçarmos o padrão daquele demônio que se mantinha no corpo do rapaz sob os nossos cuidados.
Enquanto mergulhávamos em nossas pesquisas, recebi um telefonema informal de minha amiga Margeau. Liandra, a quem eu chamava de charlatã, tinha progredido em muito nos seus estudos sobre ocultismo. Dizia-me que depois da experiência nas Ilhas Caribenhas, nunca mais ela queria passar por aquele aperto, ainda mais por que ela se casaria e que estava para ter um bebê.
– Casamento?
Lembro-me de ter murmurado, com uma breve entonação de surpresa, mas creio que foi por conta dela ter dito que teria um bebê.
– Quem é o felizardo?
Creio que devo ter usado um tom diferente na voz, pois Liandra começou a ficar desconfiada. Nunca tinha me visto tão interessada na vida que ela levava entre os vivos, ela falava o nome do felizardo, parecendo um pouco receosa.
– Por que Alice? Tem alguma coisa errada?
Por um tempo eu fiquei em silêncio, buscava nas pesquisas se aquele rapaz pertencia de alguma forma à família envolvida no caso Cain.
– Alice? Fale alguma coisa, não me deixa assim não. Lembra sua desalmada? Eu estou esperando um filho?
Meus olhos se mantinham focados na tela do computador, enquanto o nome dele era rastreado entre os nomes pertencentes à Família.
– O que você espera de uma amiga que é Agente do FBI? Estou apenas verificando se você não está entrando em uma roubada Margeau.
– ALICE!!!
Ela estava furiosa, é claro que estaria ao escutar de forma explícita o que eu estava fazendo. Mas o computador acusava que não tinha encontrado o nome do rapaz em meio a tantos nomes. Ao menos ele não tinha ligações com aquela maldição.
– Eu desejo um bom casamento a você Margeau. Assim como desejo que você seja feliz.
Aquelas palavras pareciam ter surgido em tão boa hora para Liandra que ela começou a rir, dizendo que eu não existia. Sempre foi bom escutar Margeau, rindo. Eram poucas as pessoas que conseguiam ser como ela. Mas mesmo assim ela não desistia e insistia para que eu fosse ao casamento. Pude fazer a Margeau rir mais um pouco, enquanto dizia que eu espantaria as pessoas da cerimônia com a minha presença e ela em seu riso dizia que não ligava, desde que eu não fizesse o noivo dela correr do altar com medo de mim.
Depois de algum tempo conversando, pude me despedir de Margeau e voltar ao trabalho. Mal tinha notado o tempo passar. Mal tinha notado que o trabalho aliado à conversa com Margeau tinham me mantido desperta por 12 horas seguidas. Jean retornava extremamente exausto do trabalho que ele fazia. Ver-lo daquela forma era mesmo que ver um zumbi, com uma única diferença… Zumbis não eram bem-humorados. Ergui-me de minha cadeira e fui fazer um café extra-forte para nós dois. Ele me contava as descobertas dele e eu contava as minhas. Jean riu por um bom tempo enquanto eu contava que Margeau iria se casar e que estava esperando um filho. Ainda mais por que eu disse a ele que investiguei o rapaz e que tinha dito a Margeau que não daria certo eu ir para o casamento, pois espantaria os convidados.
– Você fazendo piadas… Realmente você precisa voltar para o trabalho em campo Alice.
As risadas desaparecerem dos lábios de Jean, quando Anderson entrou na sala e se encaminhava para umadas salas em que fazíamos os rituais que deixavam nossos corpos preparados para os Arcanjos dos quais somos Avatares. Ele pedia 48 horas e este tempo que ele pedia mostrva-nos que Geburah não seria nem um pouco delicado no caso Cain.
As horas passavam e Jean resolveu fazer o jantar para nós dois. Escutar-lo perguntando se eu estava tomando os soníferos que eu tomava, me fez olhar desconfiada para ele.
– O que tem em mente Jean?
– Esta noite você não precisará deles, Alice.
O jantar foi servido e compreendi o porquê de tudo aquilo, quando o vinho foi servido.
– Um jantar romântico?
Jean sorria com os cantos dos lábios se mantendo em silêncio. O jantar foi ótimo e o vinho foi uma boa escolha por parte dele, mas quando chegou a hora de descansar. Jena pode me ver tomando meio comprimido. Ele nada falou. Respeitava a minha decisão. Eu não poderia arriscar a vida dele por conta dos meus pesadelos.
– Não se preocupe Alice. Zelarei por seu sono.
Não demorou muito. O efeito do remédio aliado ao vinho, logo me fizeram dormir. Tive uma noite bastante tranqüila. Sem sonhos. Sem pesadelos. Ao menos era isso que eu pensava que tinha sido, quando acordei no dia seguinte. Mas um calafrio percorreu meu corpo inteiro, quando ao despertar meus olhos puderam ver o quarto quase todo destruído. Jean de pé arfando, ferido, mas mantendo os punhos cerrados à sua espada.
– Ah! Bom Dia Alice…
Ele sorria. Jean sorria mesmo sentindo um calafrio enorme em seu corpo, quando meus olhos repousavam sobre ele um tanto quanto sérios.
– O que aconteceu, Jean?
Jean apoiava a ponta da espada ao chão. deixando que um dos joelhos tocasse o chão também. Era claro que ele se apoiava na espada e que ele tinha enfrentado algo forte demais que aparentemente me usou como portal.
– Não foi nada demais, Alice. Eu… Prometi que zelaria por seu sono, não prometi?
Para ele poderia não ter sido nada demais. Mas para mim foi, pois não me recordava de ter sonhado, ou de ter tido algum pesadelo que fosse.