Cabelos castanhos, olhos amendoados, rápida e serelepe, bailou ao ar. Seu toque suave nas folhas se fez, deixando-as douradas, avermelhadas e amarronzadas. Riu e se divertiu a bailar pelo ar, com olhos peraltas ficou a observar. As asas alongadas, transparentes não eram, pois as cores iridescentes faziam-se presentes nas finas asas em seu suave bailar, tocadas pela pálida luz que com ela estava a brincar.
Brincou e se divertiu ao coaxar dos sapos, deslizando pela água em suave bailar. Risadas de criança peralta ela tem, abrindo suas asas para no alto voar. Cantou aos pássaros que anunciam o inverno, que logo aquecida ela estaria, debaixo das asas de uma coruja a sonhar. Cantou a doce fada em seu alegre cantar:
– Venha, venha doce Inverno, pois minha estação já se fez por certo.
A coruja piou a voz peralta e abraçada foi pela sorridente fada.
– Mais uma vez me aceitaste no rigoroso Inverno! Minha irmã devo achar, mesmo que frios sejam os ventos que ela está a bailar em suas asas aquecidas, e logo nos mostrará o dia da alva neve que cairá sobre nós. Venha coruja, dormir devemos, para cedo despertarmos e Lyantha encontrarmos.
A coruja sua asa abaixou aquecendo a pequenina fada e logo as duas puseram-se a dormir.
A noite aquecida ela passou e logo cedo a coruja despertou. Com cuidado saiu deixando a pequena fada a dormir, coberta com as folhas que estavam por ali. Voou alto vendo a alva neve, procurando nela algo para caçar, um roedor, uma semente, qualquer coisa que viesse a encontrar.
O pequeno raio de sol adentrou a abertura ao tronco da árvore despertando preguiçosamente Kalyan que suas asas esticou. Um pequeno bocejo infantil no despertar, esfregando os pequeninos olhos amendoados, murmurou olhando aos lados.
– Coruja? Coruja? – Gritou, saltando a abertura abrindo suas asas, para sentir o rigoroso inverno daquele dia.
– Que frio! Que frio! – Abraçou-se batendo as asas de forma rápida, procurando sinal da amiga que a abandonara. Sabia, no entanto, que não muito longe sua irmã estava.
– Lyantha! Lyantha! – Com finos gritos ela chamou. Sentindo frio a pequenina logo teria que se aquecer. Suas asas delicadas não estavam acostumadas com o frio rigoroso, e vendo dois pequeninos ratos desceu ao encontro e lhes falou:
– Preciso me aquecer! – Agitou as mãos aos braços tentando se esquentar. – Viram Lyantha?
Os pequenos mexendo os bigodes indicaram uma direção para ela voar. Voou rápido, pois o frio estava grande.
– Lyantha!!! Lyantha!!! Por que tão frio desta vez? – Gritou a pequena a procurar sua irmã.
– Lyantha!!! Lyantha!!! Onde está minha irmã? Muito frio eu sinto. Por que tão frio desta vez? – Pousou os pés na alva neve, tremendo de frio.
As asas delicadas ainda se mexiam, para que gelo não criasse na película iridescente. No auge do frio sem mais saber o que fazer ela gritou mais uma vez:
– LYANTHAAAAAA!!! – Encolheu-se na alva neve, com as finas asas paradas.
– Kalyan?
Escutou uma voz mais austera, sentindo sobre ela um casaco feito com pêlos de lebre.
– Minha irmã. Sua estação já passara. O que fazes aqui?
Fechou o casaco deixando as asas delicadas de sua irmã cobertas.
– Lyantha!!! – Abraçou a irmã sorrindo. – Forte é o Inverno que trouxeras! Por que tão frio desta vez?
Lyantha observou a irmã com seus olhos azuis.
– Rigoroso este inverno será minha pequenina irmã, pois assim me foi o desejo de nossa Rainha. Mas quando o gelo degelar, belas serão as flores a florescer e poderás mais uma vez brincar nos grandes prados que se esconderam debaixo da espessa neve! – Sorriu abraçando a irmã.
– Venha. Vejo que a coruja, o Inverno não agüentara. Apresentar-te-ei, a raposa e decerto ela te receberá! – Caminharam na neve as duas fadas e muito conversaram.
Os rastros pequeninos ficavam na neve e torcendo o bigode, uma lebre pulou pouco atrás das fadas para suas pegadas apagar. Lyantha sorriu para a lebre da neve que as seguia atrás, rápida e serelepe. Kalyan esfregava as mãos delicadas soprando-as para poder esquentá-las, reclamando com sua voz infante:
– Frio! Frio! Muito frio se faz…
Lyantha riu da pequenina irmã.
– Logo terás a companhia da raposa. Deverias ter ficado onde estavas lá estarias aquecida. Não te preocupas se Dona Coruja retornar?
– Dona coruja é minha amiga. Caçar algo deve ter ido para poder se alimentar. Meus pés gelam e minhas asas doem. Ah! Doce irmã, por que minhas asas como as tuas não são? Poderia eu estar voando em brisa tão gélida para logo nos apressarmos. – Falou Kalyan.
Lyantha olhava para a irmã ternamente.
– Minhas asas, na estação de nossas outras irmãs, apenas são um peso que não devo esquecer. Estaria eu a reclamar como reclamas agora na estação de Rynka, a fada do verão. Venha doce irmã, lá a toca está.
Apontou Lyantha, a toca da raposa. Logo entraram e a amiga, nada boba, rápida partiu. Ali era a toca da raposa que adorava ter lebre em seu jantar. Ajudara as fadas em suas pegadas e nada mais havia de fazer. As fadas sorriram ao ver-la partir e logo caminhavam no escuro recato da raposa. Era aquecida e com as mãos unidas, um gritinho feliz Kalyan soltou:
– Quão boa é esta toca, diferentemente do frio que jaz lá fora. – Kalyan retirou a pele que a cobria e devagar mexeu suas asinhas.
– Veja irmã, veja! – Radiante saltou ao ar, bailando ali, ficou a voar. Seu vôo brilhante iluminava a toca com tons avermelhados que ficavam dourados. Lyantha sorriu vendo a raposa chegando, silenciosa e matreira, atrás da serelepe irmã que estava a voar. Nada fez enquanto via o bailar.
Um vento forte e quente se fez. Kalyan perdeu seu bailar. Seu brilho esmoreceu deixando a toca pouco iluminada, e olhos ameaçadores apareceram, fazendo Kalyan voar para trás da irmã, com o corpo tremendo e suas asas a encolher. Fechou os olhos falando baixinho, temerosa com o que estava a ver.
– Um goblin!!! Um goblin!!! Coitada de nós!!!
Lyantha sorriu, trazendo-a para frente notando-a temerosa.
– Olhes direito, irmã pequenina. Não conheces mais aquela que possui as cores outonais e que rápida corre pela floresta?
Kalyan abriu seus olhos deixando o brilho aumentar e um enorme focinho negro, ali estava a cheirar. Pode ver os pêlos vermelhos com o brilho de seu voar e os olhos intrigados estava a observar. A Raposa, amiga, seu focinho encostou à pequenina barriga da fada outonal. Kalyan riu de forma gostosa com um riso infantil, colocando as mãos no negro focinho, falou alegre, abraçando o focinho preto envolto de pêlos avermelhados.
– Raposa!!! Raposa!!! Que bom encontrá-la!!!
Lyantha riu e voou perto da raposa. O brilho azulado e por vezes prateado iluminou a pequena toca, mesclando as cores, douradas e prateadas, azuis e avermelhadas com o bailar das duas fadas.
– Raposa dos pêlos vermelhos como as folhas outonais, minha irmã eu peço para que aceites em teu lar. O Rigoroso Inverno lá fora se faz e peralta é minha doce irmã. Cuide dela, é o que peço. E quando o gelo degelar e as flores florescerem leve-a para encontrar a doce primavera, pois Tharyn a receberá de braços abertos.
A raposa abaixou a cabeça de forma rápida e a ergueu. Com o focinho faz Kalyan se sentar sobre ela e a conduz para o fundo da toca debaixo da terra.
– Adeus Lyantha! – Sorriu Kalyan sendo conduzida pela raposa e Lyantha logo partiu, pois um longo Inverno tinha que levar para as demais terras.
Ao fundo da toca logo chegam e abaixando a cabeça, a raposa, deixou Kalyan descer. Com dois pulinhos a fada rodopia no ar dando alegres gritinhos para amiga.
– Nossa!!! Nossa!!! Que toca quentinha!!! Agora entendo porque não sai. Mas, não tens fome raposa amiga?
A orelha é erguida ao ouvir sobre comida e dando duas pequenas lambidas no focinho olhou para Kalyan por um tempo. Soltando o ar pelo focinho de forma que o bailar seja interrompido, bateu uma das patas no solo abaixando a cabeça tocando o focinho nas folhas que ali tinham. Parecia falar para a pequena fada que permanecesse ali, enquanto fora ela ficasse. Kalyan sorriu, doce e peralta jogando as folhas para o alto.
– Pode ir Dona Raposa! Aqui ficarei até você voltar. Mas vá, se apresse e não demore. Cuide-se lá fora, pois o rigoroso inverno lá se faz. Vá! Vá! E venha logo. – rodopiou bailando no ar, uma vez mais. A raposa lambeu o focinho partindo bem depressa. De comida precisava, assim como a pequena fada.
Estando Kalyan na toca quentinha, em meio às folhas a fada mergulha. A cabeça ergueu, por entre as folhas, para espiar a toca escura que se encontrava.
– Diferente é da casa da coruja. Sombrio aqui fica sem o meu leve cintilar. Uáááá!!! – Bocejou de modo infante esticando um dos braços com o punho fechado e com a outra mão a esfregar os pequeninos olhos.
– Mas tão quentinho aqui é. – Debruçou-se sobre as folhas e encolhida ficou. Um pequenino bocejo outra vez escapa, e apoiando a cabeça sobre os braços, os olhos fechou.
A raposa não muito demorou e vendo a doce fada a dormir, um pequeno tufo de pêlo de lebre pegou, cobrindo o pequenino corpo da amiga. Enrolou-se com cuidado para manter a fada aquecida entre seu corpo e as folhas que estavam ali. Longo inverno seria aquele sob as asas de Lyantha.