“- Aqueles olhos. Não… Não podiam ser os mesmos olhos! Ela não poderia… – A avó ainda mantinha as mãos frente aos lábios, tentando despertar daquela sensação estranha que tomava posse de sua alma e de seus pensamentos. As palavras que ela havia escutado, não poderiam ter partido dos lábios daquela moça. Não aquela moça em particular. Seus pensamentos a remetiam a um passado onde ela via uma garotinha com olhos tão estranhos para a família Lupin. Mas não podia negar o cheiro que a moça possuía em seu sangue. Não podia se esquecer dos olhos assutados de quem não conseguia dormir, falando sobre monstros no armário.” – A-Alice?
Meus olhos se estreitavam mais ainda e aquela velha ainda se mantinha no meu caminho. Meus lábios se retraíam, deixando os dentes à mostra, evidenciando claramente a raiva crescente dentro de mim. Minha espada já não se arrastava mais ao chão. Aquela velha protegia uma besta que devia ser eliminada e aqueles que estão aliados com meus inimigos, devem ser eliminados. – Não deixarei que esta cria do inferno destrua a humanidade!
O tempo começava a virar. Nuvens escuras avançavam em direção àquela casa. Ventos mais fortes começavam a castigar as árvores, trazendo dor aos seus troncos, fazendo-as gritar, implorando perdão ao vento por se manterem enraizadas. A criança chorava em seu berço, pressentindo o perigo que a circundava e a velha tentava resgatar em seu sangue algo que Alec também carregava.
– Espere! Alice! Esta não é você! Eu a conheço… Conheço seus receios… Sei o que aconteceu contigo… A criança… Ela não tem culpa!
Eu podia escutar aquela voz. Aquela voz que dizia me conhecer, que dizia saber o que havia acontecido comigo. Ela tentava dizer que a criança não tinha culpa.
– BASTA! – Gritei erguendo minha espada! – Saia da minha frente Lupin, ou terá o mesmo fim da criatura que você tanto protege. Não apele para os laços familiares.
O medo começava a se espalhar de forma crescente nas almas de quem estava perto daquela casa. A Avó de Alec, não reconhecia mais sua neta. Os Lycans começavam a temer a própria mãe Gaya que arrancava da terra o ar eletrizado, levando-os para o céu em uma demonstração de sua fúria.
“- O que está acontecendo com ela? o que está acontecendo com o tempo grande mãe!” – Pensava de forma desnorteada a senhora, escutando o silenciar da criança naquela aproximação perigosa de Alice. Voltando seu olhar para a criança, ela não sabia mais quem devia temer. Se era a neta que parecia carregar em sua alma o sangue de arcanjos vingadores, ou se o olhar daquela criança tão nova ao berço. Seu coração pulsava de modo forte, enquanto seu sangue lycan começava a mostrar nuances do que Alice havia dito em tão poucas palavras. Seu corpo voltava-se então em direção a Alice e ela se assombrava ao ver que a neta havia saltado ao ar e que agora descia com a espada pronta para golpear.
“- Saia! Saia do caminho sua velha estúpida. Ele não é mais seu neto!” – Estes eram os resquícios da minha humanidade que implorava para que ela abrisse o caminho, antes que o golpe acertasse aquela senhora. Eu já não comandava mais meu corpo. Eu já não possuía mais controle sobre meus atos e em breve não teria mais controle sobre meus pensamentos.
A velha compreendia que não devia interferir e saltando para o lado, podia escutar o partir da madeira por aquela espada que possuía algumas runas gravadas por toda lâmina. Não podia suportar olhar mais para aqueles dois olhares que estavam ao redor dela. Seu corpo tremia. O medo havia possuído sua alma e ela rezava para a grande mãe que a libertasse daquela influência.
Meus olhos já não eram mais meus. Meu corpo já não era mais meu. Minha espada começava a partir a madeira daquele berço, ansiando partir aquele diminuto corpo em duas partes. O desejo por sangue, morte e justiça, eram as cordas que manipulavam cada pensamentos, movimento desejo, anseio. Tão próximo, tão deliciosamente próximo aquele diminuto corpo estava, mas a força que lançara meu corpo contra a parede parecia ser maior do que aquele último impulso humano que eu tive.
A velha escutava um baque forte contra a parede de madeira, pode captar sons de ossos partindo em algumas partes. Seus olhos voltavam-se assustados na direção do som e lá ela pode ver Alice tombando ao chão. Ainda segurando de modo firme o punho da espada. Não conseguia acreditar no que os olhos dela viam. O que havia acontecido?
Meu corpo caía ao chão, depois de escutar parte de meus ossos quebrando. Por mais que eles dominassem meu corpo, por mais que eu perdesse a consciência de meus atos. Eles jamais me deixavam inconsciente de forma plena. Eu podia não sentir, mas sabia muito bem tudo que estava acontecendo com meu corpo.
– Humhumhumhumhumhum! – Riam os arcanjos – Então o pequenino herdou a força do avô… Nos dê a liberdade de agir Inquisidora. Dê-nos a liberdade plena! – Falavam os dois arcanjos erguendo meu corpo mais uma vez e fazendo-me olhar para o berço. Fazendo-me encarar aquela criança maldita.
” – Você sabe que ele jamais deveria ter sobrevivido. Não deveria ter interfirido no destino dele. Não devia ter interferido nos desígnios DEle.” – Geburah me repreendia no pior momento possível.
“- Mate-o Alice. Você prometeu-me a morte dessa criança! Você me prometeu este sacrifício.” – Togarini recordava de minhas promessas.
Mas o que era aquilo? Quem estava dominando o corpo de sua neta? Que vozes imponetens eram aquelas que faziam suas cobranças para uma mortal que parecia se submeter à vontade deles como uma boneca manipulável? A avó de Alec estremecia o corpo, afastnado-se cada vez mais, estava assombrada com a presença de entidades tão poderosas. Queria gritar para Alice não se submeter àquelas cobranças.
Minha mão fechou-se ao redor do fio da espada, deixando-se deslizar, enquanto o fino fio da dor arrancava um olhar sádico em um rosto frio e impassível.
– Que não hajam mais lacres! Que não hajam mais empecilhos! Que meu sangue seja o portal para que ambos os Arcanjos lancem seus poderes sobre os infiéis de coração…
O corpo da avó dos Lupin estremece. Ela podia escutar seu coração bater de forma tão alta, que achava que seria impossível escutar aquelas palavras, mas aquilo tudo parecia ressoar em sua alma. Seus olhos não conseguiam desvencilhar daquele olhar…
A criança começava a se tranformar diante dos meus olhos. Não havia mais inocência naquele corpo. Os dentes agora pareciam presas de uma besta. Garras começavam a crescer nas diminutas mãos. A pele começava a se rasgar em várias partes… Mas eu devia continuar a invocação.
– Não mais haverá injustiças. Não mais haverão mortes inocentes. Geburah, Togarini eu vos liberto!
A criança erguia a mão em direção do corpo da Alice quando aquela invocação chegava ao final, lançando pedaços grandes do berço que formavam estacas. Memso tão nova, mesmo ainda sendo um bebê, aquela criança desejava viver e não deixaria que Alice lhe causasse mal.
Eu podia ver aquelas estacas sendo lançadas contra meu corpo, eu podia sentir a minha mão acabar de deslizar sobre a lâmina de minhas espada. Eu pude senti por um momento o tempo parecer parar, junto com meu coração, quando uma das estacas começou a perfurar o meu corpo. Após isso eu não vi mais nada.
– Alice! – Murmurou a avó ao ver o corpo da neta começar a tombar um pouco para frente por conta da violência daquele ataque que ela sofreu. Ela pode ver a estaca começando a perfurar a região do coração, mas ver aquela estaca em si virando pó enquanto todas as outras eram lançadas em diversas direções da casa à medida que um tornado parecia surgir ao redor do corpo da neta, quase a fez se esquecer de que ela estava na linha da batalha. Seu corpo não conseguia se mover. Estava paralizada de medo, enquanto via aquelas chamas azuladas e esverdeadas tomarem o corpo de sua neta. Não conseguia pensar em outra coisa se não em gritos de piedade que berravam em sua mente quando o corpo da moça começou a se erguer. Não.. Aquela não era sua neta.. Não podia ser! Havia algo demoníaco naquele olhar. Havia algo que estava longe de ser divino. Aquilo não podia ser verdade. “Ele” não poderia ser tão cruel a este ponto…