Aquela noite ficaria marcada na mente de muitos, Thorn não deixou eu sair de sua casa enquanto eu não estivesse completamente recuperada. O que deixou Jean um pouco desconfortável, mas cedendo ao pedido do necromante depois de tudo que ele pode presenciar. Naquela noite ficou decidido que eu ainda seria a agente que me manteria na área em que Alec e Júlia trabalhavam, até mesmo por pedido de Thorn que ficou sabendo mais tarde de Togarini o que eu havia prometido ao Arcanjo.
– Você irá cumprir a sua promessa acaso ocorra algo de errado? – Perguntou-me o necromante depois de alguns dias em que eu já me encontrava recuperada.
– Sim. Eu irei, mesmo sabendo que é meu sobrinho.
Thorn suspirou, por saber que muito de minha humanidade havia se perdido pela quantidade de vezes que eu visitei o Vale das Sombras. Ele mesmo achava que era incapaz de sentir algo por alguém ou derramar suas lágrimas por alguém até aquela noite em que pensou trocar de lugar comigo.
– Você carrega um fardo muito pesado, Alice. – Murmurou o necromante e ele apenas pode me ver observando o fundo de uma caneca um tanto quanto pensativa. Se ele soubesse que os Arcanjos poderiam ser mais cruéis do que ele estava acostumado, saberia porque eu carrego tanta raiva dentro de mim e essa vontade louca de morrer, mas Togarini sabia o que fazia e sabia muito bem quando acionar um de seus avatares para resgatar-me em minhas crises suicidas.
– Eu sei, Thorn. Mas o que você enxerga é apenas a ponta do Iceberg.
Thorn erguia-se da mesa, vendo que eu observava a janela aberta que msotrava um pouco daquele cenário pantanoso ao qual ele se recolhera. Era engraçado como ele buscava a solidão, desde que se envolveu com Togarini e eu estava aprisionada em uma seção do F.B.I. buscando levar a minha vida como poderia levar. Alguém sedenta por vingança e justiça. Fechei meus olhos por um breve momento, sentindo a brisa quente dos pântanos de Nova Orleans. Escutando os cricrilares e o mover das águas pelos crocodilos que buscavam suas presas. Thorn se aproximava novamente com um bule novo de café e me via ali recostada na mesa.
– Você anda mais cansada do que aparenta. – Murmurou Thorn, sentando-se perto de mim e notando que meus olhos se moviam de um lado para o outro. – Huum… Isso não é um bom sinal…
Enquanto Thorn se erguia para tomar providências, eu me encontrava mergulhada nos mundos oníricos. Mundos estes que eu odiava mergulhar por saber o que ocorria toda vez que eu sonhava. O Mundo que eu conhecia não era mais o mesmo. Humanos eram caçados, a morte estava espalhada por tudo quanto é lado. As asas de Togarini não conseguiam ficar mais negras, agora estavam vermelhas e úmidas, deixando aquele líquido vermelho e viscoso pingar de suas penas enquanto ele parecia completamente extasiado. Pessoas gritavam por piedade em plena luz do sol e os vampiros andavam com suas presas à mostra, rasgando e dilacerando aqueles que clamavam por Deus. Tudo parecia ter saído da ordem natural das coisas. Lobisomens se encontravam pendurados com suas peles esticadas, como lobos caçados por caçadores, demônios riam se aproximando cada vez mais.
– Não. Isso não é possível…
Eu falava em meio aquele sonho tentando buscar a causa de tamanha destruição quando senti uma lança sendo cravada em meu coração no momento exato que eu encontrava Júlia rasgando o pescoço de Alec. Meu grito não pode sair para chamar Alec. A dor era grandiosa demais. Eu via a lança trespassada pelo meu corpo e podia escutar a voz de Geburah.
– Aquilo que devia estar morto, deveria se manter morto. Isso tudo acontecerá, Alice. Você traiu a sua função. A criança será corrompida e tudo que você fez foi em vão.
– Não o escute, Alice. Geburah não compreende que seu verdadeiro papel é sacrificar almas em meu nome…
Culpada. A sentença de ambos os arcanjos por minha ousadia em bancar Deus, era culpada. Eu traria a desgraça ao mundo, por ter trazido a vida a um natimorto. Um natimorto que unia duas raças que eram consideradas perigosas para a humanidade. Geburha torcia sua lança em meu corpo. O arcanjo sabia como fazer uma pessoa sofrer, mesmo que seu golpe fosse mortal para muitos.
– Aqueles que interferiram, devem pagar. Alguém precisa morrer.
Mais uma torcer da lança dentro de meu corpo e eu abria meus olhos com tamanha dor. Thorn segurava-me pelos ombros e pode ver quando um fio de sangue desceu de meus lábios.
– Shhh!!! Foi apenas um pesadelo… – Murmurava Thorn para mim, me abraçando e pensando o que poderia ter acontecido. Meu coração estava batendo acelerado e eu fechavam as minhas mãos nas roupas de Thorn. Algo iria acontecer e eu era a causa do que estava por vir.