Comecei a correr e não olhei para trás.
Alec tremia o corpo por seus vários motivos, uma era por ele ter que segurar sua amada com toda a força que ele possuía e outra era por saber o que poeria vir a acontecer. Alice nunca havia ido a sua residência e ela não sabia o que estava por vir. Ele tinha que confiar na irmã. Sabia que ela iria até o fim da escolha que ela fez para sua vida e ele jamais poderia mudar isso, pois não pode fazer isso no passado, quando os pais deles resolveram cortar os medicamentos de Alice, achando que ela poderia passar o Natal sem ficar letárgica.
Eu não precisava saber o caminho para aquela casa, era só seguir meus instintos e deixar que os arcanjos em certo ponto me guiassem naquele momento que eu começava a ficar “cega” pela justiça, mas os arrepios nunca me abandonariam. O meu sexto-sentido nunca me deixaria na mão e as coisas nunca aconteceriam tão facilmente em minha vida. Pude apenas escutar aquele rosnar e o arrepio rasgando a minha coluna, me dando tempo o suficiente para girar o corpo e tentar parar o que quer que fosse. Pude ver diante de meus olhos aquele monstro de olhos amarelos e pêlagem negra saltando com suas garras enormes para cima de mim. Deixei meu corpo começar a cair e tudo parecia câmera lenta. Minhas mãos puxando as Deseart de dentro do capote naval, aquelas mãos enormes alcançando o meu corpo, o recostar das armas no abdômen daquele lycan, as garras dele começando a rasgar o meu capote, penetrando meu corpo e o disparar do projétil.
“Alice” – Alec se sobressaltava, erguendo a cabeça fechando mais ainda as mãos em cima do ombro de Julia, escutando o disparo claro das duas armas de sua irmã, seguido de um ganido. Sua irmã tinha encontrado um dos lycans que habitavam nas redondezas de sua casa? Alec rosnava, rangendo os dentes, escutando os gritos de Júlia para libertá-la, enquanto tentava afastar da mente que Alice poderia não conseguir completar a missão. Não… Ele não poderia pensar daquela forma.
Quão dolorida tinha sido a dor, tanto para mim, quanto para o lycan que agora colocava a mão na região do abdômen, sentindo a carne queimar. Alec jamais imaginaria que eu estava andando com projéteis de prata e se meu irmão pensaria que eu seria ingênua em achar que ele vivia sozinho com a vampira, ele estava enganado. Ergui-me, sentindo o sangue escorrendo da ferida por debaixo da minha roupa e meu lado de Inquisidora já estava latejando. Eu olhava para aquele lycan. Ele podia escutar o engatilhar das duas armas e eu estava pensado seriamente em matá-lo naquele momento por ele ter se metido no meu caminho. Mas o velho arrepiar da base da coluna até a nuca, só me fez girar o corpo e começar a disparar as armas. Eu devia ter imaginado… O Primeiro era o batedor, o resto da matilha estava logo atrás.
Mais disparos e ele já nem sabia se escutava os disparos ou se estranhava o acalmar de Júlia aos poucos…
Eles resolveram atacar em conjunto. Matilha esperta! Se um sair ferido o restante faz o serviço. Uma bela tática contra um inimigo que é julgado poderoso. É justamente o ataque corrdenado usando a vantagem numérica que traz a vitória. Quase não tive tempo de largar as armas ao chão e desembainhar a espada descrevendo um meio círculo.
Na hora de uma luta, não vemos quanto atingimos, apenas sentimos o impacto da espada contra o corpo de alguém. Escutamos o grito da vítima e claro, por mais que os instintos berrassem, eu nunca daria conta de todos ao mesmo tempo. Não de forma humana demais. Ou eu usava a magia, ou eu liberava aquelas duas entidades que clamavam por morte, sangue e justiça.
Um grito acabou escapando de meus lábios, quando eu sentia minhas costas sendo rasgadas, mas eu diria que o melhor de tudo isso. Foi ver os lycans saltando para trás. Cravando suas garras ao solo de batalha e recuando aos poucos. Dá para ver quando um cachorro ficava acuado, confuso e com os lycans era a mesma coisa… Eles podiam apenas me ver erguendo e continuar meus passos, arrastando a ponta da espada no solo.
– Ela…
– Sim… Eu também senti…
– Eu não sei o que assusta mais… Se é o olhar dela…
– Ou o cheiro que ela carrega no sangue…
Alec tinha escutado os rosnares vindos de longe, ganidos, gritos e depois o silêncio. Ele não sabia o que estava sendo mais perturbador. Se era ver Julia chorando sangue, com o rosto virado de lado, enquanto o corpo regenerava devagar as queimaduras, ou se era aquele silêncio, no qual ele não estava conseguindo ver pelos olhos da irmã, ou sentir o que ela estava sentindo.
Estava ali. Bem à minha frente. Lá estava o lugar em que eu deveria executar a minha promessa feita a Togarini. Minha mente já não pensava mais em um recém-nascido inocente. Meus olhos já não viam uma casinha agradável, onde se poderia pensar que ali era o local que eu gostaria de morrer. A porta se abria com certa urgência e pude presenciar o medo em um olhar. Pude ver as mãos se unindo frente aos lábios e os passos sendo dando para trás vagarosamente. Aquela senhora que estava à minha frente, eu tinha a estranha sensação, mas não era hora para ter estranhas sensações.
Aquela senhora que estava no meu caminho, podia ver os olhos amarelos e frios por dentre alguns fios negros, presos ao meu rosto por conta de suor e sangue. Ela podia ver a trilha de sangue que eu deixava a cada passo que eu avançava.
– Em nome de Gaia, Geburah e daqueles que prezam extirpar a presença dos lacaios da Wyrm, e das criaturas que desejam apenas a destruição… Saia do meu caminho ou eu mesma terei que abrir as suas vísceras para alcançar o meu objetivo…