Meus passos eram calmos naquele local obscuro. Não havia preocupações, nem mesmo eu estava alerta.
O vento permanecia parado, o silêncio inquebrável e o leve soprar da brisa, trouxe-me um sorriso aos lábios.
– Às vezes me perguntam, até quando deixarei essas coisas acontecerem.
A voz era serena. Grave mas ao mesmo tempo baixa e eu continuo meus passos, deixando minhas mãos ao sobretudo.
– Você podia ter interferido. – murmurei, erguendo meu olhar, para fitar aquela negritude à minha frente.
– Sim. Eu poderia, Alice. Mas se assim o fizesse, estaria me tornando como ele.
Observo de soslaio quem me acompanhava e ficava me perguntando se havia essa possibilidade, mas logo meneio a cabeça em negação.
– Mas para muitos, você é pior do que ele.
A risada que se seguia, era uma risada gostosa. O olhar arguto, vinha de soslaio. Ele buscava em minha alma o que eu realmente achava dele.
– Posso ser pior do que ele e você sabe disso.
Parei meus passos por um tempo, sentindo o meu cabelo roçar ao meu rosto, por ter notado algo ao chão.
– Eu conheço este lugar.
Ele suspirou de forma longa e então murmurou.
– Você sempre foge para cá. É aqui onde tudo começou.
Achei estranho tal comentário vindo dele, e então me virei. Encarei aquele semblante sereno, aqueles olhos escuros como duas jóias negras. Pude ver os cabelos dele se moverem, como tocados por uma brisa gentil que apenas o acompanhava.
– Você…
Ele se aproximou, tocando meu rosto com aquela mão delicada. Analisava meus traços e isso ficava claro pela forma que ele me olhava.
– Eu não podia dizer. Não podia exigir de você um sacrifício daquele tamanho, Alice.
Ele deixou a mão deslizar até a minha cintura e puxou-me para perto dele. Eu podia sentir sua outra mão afagando meus cabelos, poderia escutar o coração dele bater, se assim ele quisesse.
– Você estava com tanta raiva. Tão cega em sua ira. Não mentirei ao dizer que tal ira fora incômoda para mim. Eu estaria sendo hipócrita.
Riu de forma baixa, eu sabia o que ele queria dizer. Minha ira resultou nos sacrifícios mais sangrentos que pude ofertar a ele, mesmo assim ele nunca me dissera quem era que eu tanto buscava.
– Mas pude compreender, quando você aceitou a ajuda de Geburah, mesmo ele sabendo quem era seu alvo e sabendo que eu não havia contado a você.
Pude sentir, quando ele recostou o queixo em minha cabeça. A serenidade dele me impressionava por ele ser quem ele era.
– Mas…
Ele ergueu meu rosto, fazendo com que eu olhasse em seus olhos. Ele não precisava me explicar estava claro para mim.
– Era para você ter morrido naquela noite Alice. Quando Alec matou seus pais. Era eu quem guiava o corpo de Alec, junto com outros seres que estarão sempre presentes à vida dele.
Meu cenho franziu por um breve momento, mas ele me mantinha naquele abraço.
– Você tem direito de me odiar. Mas…
Ele pareceu-me pensativo por um breve momento. Talvez relembrando tempos passados, ou quem sabe escolhendo melhor as palavras que me diria.
– Foram seus olhos Alice.
Mais uma vez estranhei o que ele dizia e então pude sentir meu corpo se movendo. Não sei qual foi o momento em que me deitei, mas sei que eu estava erguendo meu corpo de uma cama, escutando aquelas últimas palavras.
“- Foram eles que pararam as nossas mãos naquela noite.”