– Eles a trancafiarão.
– Não tenho medo.
– Eles a condenarão.
– Não tenho medo.
– Sua vida chegará a um fim e Togarini não terá dó de sua alma.
– Fiz o que fiz, por opção minha e não morrerei antes de ter minha vingança.
– É a vingança que a move?
– Você sabe que os mortos não eram inocentes.
– Eu sei, mas eles sabem?
Por um momento respiro erguendo meus olhos. Estava sendo observada por eles. Andavam como predadores esperando o momento de serem alimentados.
O mais velho parecia ter um olhar de lince, de quem consegue ver além das aparências, mas eu não me incomodava com ele. As roupas bem alinhadas davam-lhe um ar respeitoso. Os olhos, castanho-mel, esmiuçavam-se e ele respirou fundo voltando-se para o mais jovem.
O mais jovem parecia exaltado, andando de um lado para o outro, olhando-me e às vezes e sentindo calafrios.
– Pessoas como você, merecem o mesmo fim que dava às suas vítimas.
– Eles não farão isso.
– Olho por olho…
– Dente por dente, já conheço a ladainha.
– Eles a matarão.
– Não farão isso.
– Por quê?
– Porque eles precisam de mim.
– Eles não gostam de justiceiros.
– Não é o que fazem em teu nome? – sorri com certo escárnio.
– Eles seguem as leis.
– Não deixam de ser assassinos.
– Profissionais que salvam vidas inocentes.
– Eu salvo vidas inocentes.
Meu corpo foi arremessado contra a parede com extrema violência e pude sentir meu corpo inteiro reclamar. Minhas costas doíam, minha visão ficava turva, meu corpo inteiro tremia enquanto eu me erguia mais uma vez.
– Se eles a julgarem, sua vida termina aqui. Uma assassina pérfida que jamais terá o devido reconhecimento dos seus serviços para a comunidade.
– Qual seu real interesse nisso?
– Eu posso dizer quem matou seus pais.
Aquelas palavras reverberaram em minha alma. Há tempos eu matava aqueles párias. Vampiros, Lobisomens, Zumbis, Demônios, tudo que a humanidade ignora por achar ser apenas mera fantasia, mas nenhum deles foi quem eu busquei. O responsável pela morte dos meus pais, pelo desaparecimento de meu irmão e dos meus dias delongados em um hospício.
– Qual seu real interesse nisso? – repeti agora um pouco mais furiosa e mais uma vez meu corpo foi arremessado com tremenda fúria, desta vez contra o vidro de proteção daquela sala. Meu corpo sentiu o momento exato em que aquele vidro se partia em milhões de pedaços e a pele sendo lacerada em várias partes.
Eu caía aos pés daqueles dois homens que olhavam na direção da sala e eu mal conseguia respirar.
– Geburah! – eles gritaram.
Ri de forma baixa, agora eu sabia o nome daquele arcanjo. Togarini se aproximava de mim, tocando-me com as pontas de suas asas.
– Torne-se minha avatar, eu te darei poderes que Togarini não te deu e quando estiver pronta, eu darei em tuas mãos o assassino de sua família.
Eu ainda ria de forma baixa. Pude ver Togarini olhando em meus olhos e apenas suspirando. Ele acariciava meu rosto. Geburah estava me garantindo algo que ele jamais me ofertou.
– Não posso abandonar Togarini. – murmurei, em tom baixo e Togarini apenas sorriu.
– Você poderá morrer sendo avatar de dois Arcanjos.
– Ou isso ou morrerei da forma que você me disse.
– Como saberei que você suportará?
– Apenas quando vocês dois compartilharem seu poder dentro de meu corpo, é que você saberá.
O jovem me pegou aos braços e me ajudou a levantar. Seus olhos se assombraram quando acabei de me erguer.
Às minhas costas dois selos se mesclavam e ele olhou para o mais velho.
– Ela agüentará?
– Se agüentou até agora, quem sabe quando eles entrarem no corpo dela?