Eles sorriam, agradecendo por terem chegado a tempo para me resgatar das portas do Inferno. Já eu agradecia por ter amigos como Jean e Thorn, mesmo não tendo os chamado.
– Como… – Murmurei de modo fraco, tentando me mover.
– Shhh!!! – Thorn pedia que eu me silenciasse, acariciando os meus cabelos. Jean mantinha a mão sobre o meu tórax, me mantendo deitada sobre os escombros da mansão.
– Temos que tirar-la daqui, Thorn…
– Eu sei, Jean. Mas, trazer a Alice desta vez não foi fácil. Terei que manter a magia, até que façamos a transfusão de sangue.
– Eu posso…
– Não Jean, nem mesmo a sua esfera de cura pode apressar isso…
Apertei o braço de Thorn, brevemente. Eu estava escutando a conversa de ambos, mas ainda precisava resolver uma coisa, antes de me preocupar com a minha saúde.
– Preciso resolver algumas coisas…
Ambos olharam para mim. Mesmo fraca, cada visita minha aos portões da morte, aumentava mais a sensação de desconforto para quem andava comigo. Togarini sorria e Geburah o olhava com os cantos dos olhos.
– Você sabe que sua avatar morrendo, estará destinada ao Inferno. – Murmurou Geburah a Togarini.
O Arcanjo da morte andava ao redor daqueles três que se encontravam por ali. Observando dois de seus Avatares e dois dos avatares de Geburah.
– Tudo porque ela resolveu servir a minha pessoa antes de te servir. Você a enganou. Usou de um golpe baixo para que ela cedesse a cobiça de um poder maior em nome de uma vingança pessoal. Aproveitou-se da vontade de Alice querer matar os bastardos em meu nome, apenas para que a sua justiça prevalescesse e ainda se sente indignado por ela fazer a justiça em teu nome, mas dedicar as mortes em meu nome. – Togarini sorria, abrindo suas asas, lançando sua sombra sobre Thorn e Jean. Ambos sentiam um calafrio intenso, enquanto tentavam ajudar-me e Geburah rangia os dentes, apertando a mão envolta de sua lança.
– Basta, Togarini. Estamos arriscando a vida de três avatares. Sendo que, Alice é útil tanto para você quanto para mim!
– Não levante mais tua voz contra mim, Geburah. Você condenou Alice ao Inferno, por saber que ela jamais será uma avatar tua de corpo e alma. Não pense que me esquecerei de tua trapaça em busca de justiceiros. Enquanto eu puder interferir, eu irei interferir e aceite de uma vez por todas o fato de que Alice prefere a mim, a você.
Thorn cerrava os dedos, pois escutava a discussão dos Arcanjos. Sabia que Alice e Jean também estavam a escutar, mas eles não podiam interferir, pois jamais conseguiriam vencê-los sozinhos. Jean apoiava a mão no ombro de Thorn, compreendia o que o necromante poderia estar sentindo.
– Thorn… Jean… Eu preciso ir…
Eles me observam por um tempo e me ajudam a levantar. Tinham me encontrado por sentirem a presença dos Arcanjos e por isso chegaram a tempo de salvar-me. O máximo que podiam fazer era salvar-me antes que eu morresse, mas jamais conseguiriam saber quando eu resolveria cometer meus atos suicidas. Não era fácil conviver com a eterna disputa dos Arcanjos por uma avatar que agüenta ser um instrumento nas mãos dos dois ao mesmo tempo.
– Ligue se precisar da gente… – Murmura Jean e Thorn me olha de um modo sério que até mesmo eu sentia calafrios com aquele olhar. – Manterei a magia, até você retornar e começarmos a transfusão de sangue, mas não demore Alice… – Thorn sorri de modo misterioso. – Ou você será a minha zumbi favorita.
Jean dá um murro no braço de Thorn.
– Ouch!
– Não pense que você roubará a Alice de mim tão facilmente, necromante!
– Alice era minha, antes mesmo de você aparecer, detetive…
– Agente!!! – Resmuga Jean.
Caí na risada vendo a cena, era quase possível ver a aura dos Arcanjos sobre eles.
– Certo… Agora vocês estão iguais aos arcanjos e eu não sou um pertence de vocês… Eu os vejo mais tarde.
Saí, sentindo o olhar dos dois sobre mim. Pegava a espada, a colocando na bainha e não olhava para trás. Eu podia escutar as “brigas” de Jean e Thorn. Aqueles dois, sempre iriam dizer quem tinha mais direito, quem era o que eu mais apreciava e assim por diante. Coisas de homens, que sempre tentavam manter a sua imagem. Mas de alguma forma eu também sabia que Geburah e Togarini estavam sorrindo. Coisas de Arcanjos que precisavam da eterna disputa para manter o Status Quo.
Mas não era hora de pensar neles. Fui caminhando para o local que tinham ficado Alec, Sombras e Júlia. Tinha algo me incomodando e não era o fato de Geburah e Togarini terem discutido. Não era o fato de Jean e Thorn estarem discutindo. Havia algo mais. Algo que estava realmente me incomodando. Uma vontade de esmurrar algo ou alguém que parecia estar crescendo. Mas foi apenas quando cheguei no local que eu tinha abandonado antes da brincadeira de ceifar a vida do pai da Júlia que eu fui compreender aquela minha fúria crescente. Alec e Júlia estavam discutindo feio e Sombras estava recostado em meu carro de braços cruzados. Ele não interferia naquela briga e eu resolvi não interferir também. Já que o motivo da briga era justamente eu. A Agente do F.B.I. caçadora de demônios, vampiros, lobisomens, que surgiu do nada e que estava interferindo na vidinha deles.
Um suspiro escapava de meus lábios. Sombras me olhava com os cantos dos olhos. Alec e Júlia brigavam e a discussão parecia que iria demorar até perto do amanhecer.
Ao menos era assim que eu achava.