– Ela é a culpada! Culpada por tudo!
– Culpada pelo que Júlia? Alice estava apenas tentando nos ajudar!
– Ela matou o meu pai!
– Pelo o que eu bem me lembro, seu pai queria me matar, só pelo fato de eu ser um Lycan que vai ser pai do neto dele!
– Se ela não tivesse aparecido eu teria o convencido!
– Convencido? Os malditos estavam para me matar! Teu pai estava para arrancar da tua barriga o teu feto e a única coisa que você consegue fazer é culpar a Alice, por que ela se meteu?
– Ninguém chamou esta assassina!!!
Sombras olhava o casal que brigava aos berros e olhava para mim. Ele podia apenas notar que meus olhos se mantinham fixos sobre o casal. Mesmo ele ficando com calafrios, ele não conseguia saber bem que sentimento eu estava tendo naquele momento. Era completamente normal a reação de Júlia. Mesmo o pai dela fazendo as piores maldades, ele ainda seria o pai dela e por mais que ela amasse Alec, este amor não superava o amor que ela tinha por seu progenitor. Meus olhos observavam mais do que o casal. A raiva de Alec me incomodava, a frustração dele me incomodava. Se eu estivesse na pele de Alec, com certeza já teria desferido um belo murro em Júlia para ela se calar, mas eu não podia e nem deveria interceder. Não naquele momento.
– Isso vai longe! – Murmura Sombras enquanto o casal ainda gritava. Alec já estava com as garras à mostra. Sua aparência humana estava completamente mudada. Júlia também estava completamente alterada. Os caninos estavam à mostra e os olhos estavam com as íris mudadas. – Como é que você se sente tendo destruído o casal vinte?
Sombras soltava a piada de mal humor, mas não conseguiu arrancar nenhum sorriso. Pelo contrário, ele me viu desencostar o corpo do carro e avançar um passo. Pode ver os meus dedos a tamborilar no ar e o entrar repentino do meu corpo no carro. Sombras me olhava intrigado, vendo que eu ligava o meu rádio ao mesmo tempo que Júlia parava de gritar com Alec.
– Júlia? JÚLIA? – Alec demonstrava preocupação em sua voz se aproximando de Júlia.
– Inquisidora chamando Paladino! Inquisidora chamando Paladino! Paladino você está na escuta?
Sombras me via chamando um tal de Paladino, ao mesmo tempo que escutava a voz de preocupação de Alec com Júlia. Ele não tinha mais que prestar atenção em mim, queria compreender o que eu tinha visto que me fez agir com tamanha urgência. Ele voltou o olhar dele para Júlia e pode ver a Vampira com a mão sobre a barriga, contendo um grito de dor e Alec tentando acudí-la.
– Paladino na escuta! Ceifador preocupado querendo notícias tuas!
Ótimo! Eles ainda estavam juntos e eu ajeitava o meu corpo no banco do carro.
– JÚLIA!! POR FAVOR!!! ME DIGA O QUE ESTÁ ACONTECENDO!!!
– Paladino, peça ao Ceifador preparar a casa dele, estou com um caso de parto prematuro em mãos…
– E quem é o pai? Eu ou o Paladino?
– Não é hora para gracinhas, Ceifador. Prepare a sua casa, estarei lá em breve. Paladino! Peça para Chronnus nos encontrar, o feto possui apenas um mês de vida!
– Copy That, Inquisidora, já estamos indo para o local do abate, traga as vítimas.
– Inquisidora Out!
Sombras se espantou, com toda esta conversa rolando quando eu já tinha acelerado o carro, parando ao lado de meu irmão. Eles pulavam para dentro do carro e eu dirigia pelos pântanos de Nova Orleans. Júlia gritava comigo para eu sacolejar menos o carro. Alec pedia para ela ter paciência. Sombras falava os caminhos que eu devia seguir para chegar no tal local do abate, quando eu passei as coordenadas da casa de Thorn.
– Se meu filho morrer eu vou rogar uma praga para que você fique estéril, sua vadia!!
– Cala a boca, Júlia! Você não pode ser um pouco mais agradecida!! A Alice está tentando nos ajudar!
– Alguém já chegou primeiro e me livrou da maternidade.
– Vire à direita se o seu carro não for anfíbio! – Falou com calma Sombras, sentindo o tranco do carro assim que ele começou a falar direita.
– Nossa!! Me dê o nome de quem a esterelizou! Vou fazer questão de cumprimentá-lo!
– JÚLIA!!!- Gritam Alec e Sombras quando a vampira amargurada soltava essa patada.
– Se quiser encontrá-lo eu posso providenciar, mas se eu fizer isso, Alec jamais me perdoará.
– Ah é? Por que?
– Por que eu mandei ele para o Inferno.
– AAAALICEEEE!!! – Gritam Alec e Sombras, notando que eu olhava pelo retrovisor para Júlia enquanto uma árvore se aproximava de forma rápida. A vampira se encolhia assombrada ao ver a forma como eu a olhava e gritou junto com eles pensando que eu mataria a todos nós naquele momento. O tranco do carro era forte. A tinta lateral do carro ficava mais arranhada e o ranger da lataria agradecia por não ter sido um impacto muito maior. Um sorriso surgia nos meus lábios enquanto o silêncio reinava entre os arfares assustados dos meus passageiros. Togarini ria observando a cena de longe e então se voltava para Geburah.
– Ela é fascinante, não?
Geburah o olhava com os cantos dos olhos, deixando o arcanjo da morte para trás. Algo nas minhas atitudes estava o incomodando e ele sabia que Togarini não iria gostar nada do meu próximo passo.
– Paladino para Inquisidora! Inquisidora está na escuta?
– Inquisidora na escuta, Paladino!
– Chronnus já se encontra com a gente e o local do abate está preparado. Você tem certeza que irá proceder com o que tem em mente?
– Tenho Paladino! Confio apenas em vocês para tal procedência!
– Tempo estimado para sua aterrisagem.
– T-5
– T-5? Aonde você está?
Anderson e Thorn estavam do lado de fora da casa e puderam apenas ver o que era um jaguar negro irromper por entre arbustos e quase subindo as escadas da casa. Sombras saía do carro abrindo a porta para Alec. Alec puxava Júlia e eu buscava um maldito cigarro nos bolsos do meu capote.
– Nada de cigarro, Mocinha! Você vai entrar no barco com a gente! – Thorn me repreendia e pegava a Júlia com Alec. Eu por minha vez passava ao lado de Alec e Sombras, deixando Anderson, Thorn e Júlia entrarem e quase batendo a porta na cara de meu irmão e de Sombras.
– Alice!! – Alec abre a a porta e eu o empurro para fora, olhando-o muito séria.
– Alec, Sombras! Sentem! – Foi crueldade minha tratá-los como cachorros daquela forma e bater a porta, trancando-os de fora. Jean olhava para mim incrédulo.
– Sua sutileza me espanta… – Mas o que mais eu poderia fazer? Dizer para eles que o que faríamos ali dentro era um pequeno milagre e que se eles interropessem todos nós poderíamos morrer?