Lá estava ela. A grande Madeleine Noveau. Ela odiava o meu sarcasmo, quando eu conversava e tentava sondar seus sentimentos. Madeleine sempre soube esconder bem isso de mim. Principalmente nos tempos de hoje, quando ela descobriu o grande enigma da chantagem de Geburah sobre ela.
Não a culpo. Geburah sempre jogou baixo demais.
– Madeleine…
Madeleine voltou-se para mim, era tão estranho ver-la com aquele aspecto jovem e angelical, ainda mais quando eu a conheci com aspecto de uma mulher madura.
– Alice… – Respondeu-me com um sorriso fraco, retirando as mechas ruivas do rosto.
– Vejo que está melhor! – Continuou aquela conversa que ambas sabíamos que não fazia parte de nosso social. Sempre fomos “francas” umas com a outra.
– O que você fazia lá? – Fui direta no assunto. Jean tinha comentado que Madeleine estivera no local em que caçávamos o demônio e que fora ela quem dera cabo nele. Disse-me também que a criatura ao ser atingido por ela, ficara surpresa. Infelizmente Jean não sabia o que eu sabia.
– O de sempre. – respondeu-me sem muita cerimônia. Insinuava-me que estava a fazer o mesmo serviço. Qualquer um poderia se dar por satisfeito, já que Madeleine era alguém que também caçava criaturas. Mas há uma diferença entre eu e ela. Apesar de trabalhar para Geburah, um dos arcanjos que preza pela justiça acima de tudo, Madeleine se encontrava em uma fina linha política, por assim se dizer.
– Estava mantendo o equilíbrio, Alice. – interrompeu meus pensamentos.
– Como os deixa manipular desta forma? O muro um dia ruirá Madeleine e você terá que escolher de que lado você ficará! – Vociferei. Revoltava-me ver tão passiva em toda aquela história. Madeleine sempre fora sábia, sempre soube resolver os casos. Ser justa e eu não tinha certeza se ela eliminara de vez aquele maldito demônio.
– Da mesma forma que você é manipulada, Alice. Você também andou em uma linha tão fina quanto a minha. Sabe tão bem quanto eu que tudo muda de figura, quando estamos com nossos parentes na linha do tiro.
Por um momento senti meu coração pulsar forte, minhas mãos gelarem. Poucos conseguiam me fazer sentir impotente daquela forma.
– Pare de revistar o local, Alice. Pare de procurar aquele demônio.
– Não… Posso…
– Sim. Você não só pode como deve.
Era uma ordem. Madeleine simplesmente estava ordenando que eu parasse com aquela busca.
– Só posso interferir naquilo que está em minha alçada, Alice. Por favor! Não quero perder a única amiga que possuo.
Talvez tivesse sido melhor ela dizer que sou a única pessoa em quem confia.
– Obrigada por ter interferido, naquele dia. – murmurei, enquanto saía, detestava ficar devendo favores. Odiava pensar que assim como Madeleine, eu poderia ficar numa linha muito fina ao ponto de desejar de vez romper com meus grilhões e deixar Geburah e Togarini brigarem por minha alma.
– Você sabe a escolha que fez Alice e é isso que a corrói. Ter deixado sua integridade ser corrompida…
Eu queria responder, queria dizer que a integridade dela também fora corrompida, mas no fundo eu sabia que Madeleine fez o que fez, para descobrir quem era o Pai dela e o Libertar, mesmo sabendo que isso custaria a liberdade dela.