A criança sentiu a mesma dor lacerante que eu senti. Benditos fosse os laços sangüíneos dos Lupin. Alec não sentiria isso, muito menos a senhora sentiria, pois o que acontecia comigo, acontecia em um plano distante dos deles. A dor era igual a física, principalmente para mim, por ainda ter um corpo físico para o qual eu devia retornar. Quanto à criança, ela sentia a minha dor, acrescida na dor que trazia a morte que Togarini tanto esperava. Como foi gostoso murmurar ao ouvido do fedelho que apenas eu sobreviveria. Pude sentir o corpo da criança amolecer em minhas mãos, enquanto minha alma andava no limiar da morte. Agarrei aquela única chance que eu ainda possuía e logo pude sentir os braços me envolverem e aquele murmurar muito baixo.
– Usando parte de sua alma e de seu sangue para desfazer o feitiço, minha doce Lupin? – Aquela voz que sussurrava tão baixa em meu ouvido era única e nunca me senti tão aliviada de ser a voz dele que eu estava a escutar. – Um preço a ser pago e mais alguns anos sob minhas asas.
Naquela escuridão das asas de Togarini, pude ver aquela alma infante sendo rasgada em filetes que eu achava e, os considerava indivisíveis. Togarini se deleitava com aquela alma tão poderosa que eu havia ofertado em seu nome e quando pude sentir as garras de Geburah começando querer me arrancar dos braços do Arcanjo da Morte, o mesmo tocou-me o local ferido, murmurando-me uma simples frase:
– Ainda não é a sua hora, Avatar.
O que se seguiu, eu jamais poderia descrever. Apenas lembro-me de escutar um choro, murmurares e prantos uivados. Lembro-me do toque tão presente em minha pele e de desejar me erguer. Mas eu ainda estava fraca e sem condições de lutar ou dizer que não precisava de ajuda.
– Anciã. Ela precisa de ajuda. Precisamos tirá-la daqui se a senhora não estiver em condições de ajudá-la. – Comentou um jovem Lycan que tentava se aproximar da Anciã e da garota com cheiro de Alec. A Senhora ergueu os olhos para ele e mesmo estando tão abalada concordou em um breve menear de cabeça.
– Você está certo, Knary. – Murmura, deitando o corpo de Alice ao chão da cabana. Ainda um bocado abalada, ergueu as mãos e clamou a Grande Mãe Gaia para me soprar um pouco de vida.
Togarini observava de um canto e sorria, enquanto Geburah mantinha-se mal humorado.
– Não bastava ela ter a sua ajuda, agora terá ajuda daqueles que ela deveria exterminar. – Togarini riu quando escutou isso de Geburah, olhando para ele e murmurando – Não seja tão mal humorado, você sabe que Gaia não ajudará nossa Avatar. Mas também sabe que Alice não precisará disso, pois ainda não é hora dela partir. Não é mesmo, Geburah?
– É tudo culpa dela. Ela matou meu Pai, matou nosso filho. Está nos separando Alec. – Chorava Júlia. – “Eu vou matá-la. Eu vou matá-la sua desgraçada”
Não sei quanto tempo passei naquele estado. Apenas sei que depois de um tempo, despertei, sentindo um pano umidecido sobre minha fronte e um olhar aliviado ao ver que eu estava me recuperando. Por outro lado eu escutava ameaças e mais ameaças contra a minha vida. Júlia deveria estar há muito tempo fazendo tais ameaças e quando tentei me erguer para sair daquele lugar que eu estava a senhora me segurou, olhando-me com olhar de poucos amigos.
– Você não está em condições.
Suspirei e olhei para a senhora um pouco mais séria do que o normal.
Que olhar era aquele? Como ela mesmo tendo quase morrido, ainda conseguia causar aquele calafrio de quem parecia querer arrancar a alma dela naquele exato momento.
Pude ver o corpo dela recuando com meu olhar, pude ver o temor naqueles olhos, então ergui meu corpo, ainda sentindo-me fraca. pude sentir alguém colocando um sobretudo sobre meu corpo e entregar a minha espada. Não direcionei o olhar, mas sabia que não era a velha. Quem quer que seja apenas me acompanhou, me ajudou e me levou de volta para a Taverna por um outro caminho que eu não havia passado.
– Não sei quem é você mulher dos olhos de lobo, mas suma deste local. Desapareça de nossas vidas. Ao menos por um tempo.
Nada respondi para aquele Lycan. Eu apenas queria sair dali.