– Alice…
– Alice…
Pude escutar uma voz me chamando naquela escuridão que eu me encontrava… Diziam que o fim mostrava uma luz no fim de um túnel. Outros diziam que poderiam ver as labaredas que pareciam arder mais altas com a chegada de um condenado. Mas ali onde eu estava, havia apenas a escuridão e nada mais. Era o fim? Então por que eu ainda podia escutar aquela voz que parecia chamar o meu nome?
– Alice…
– Alice…
Eu não conseguia reconhecer aquela voz que clamava o meu nome, ou talvez não quisesse reconhecer. Mas algo estava errado, eu não deveria estar ali. Então meus olhos amarelos erguem-se. Olhos que deram tantos calafrios às pessoas que não conseguiam compreender o medo que eles causavam em suas almas. Olhos de quem sabia que as contas não iriam ser acertadas. Foi então que eu o vi.
– Togarini.
Minha voz não pareceu temerosa, jamais ficaria temerosa diante do Arcanjo a quem dediquei minha vida primeiramente em busca de algo que deixei no passado. Pude ver aquele Arcanjo que era capaz de gelar a alma até mesmo de demônios se assim ele quisesse mesmo ele não sendo o único de sua espécie. Pude ver-lo se aproximando e tocando o meu ombro. Pude mergulhar naqueles olhos negros que diziam muito mais do que seus lábios mudos poderiam dizer. Então senti aquela lufada de ar. Uma lufada que veio com o fechar das asas dele ao meu redor e o cair do meu corpo.
– “Ainda não é sua hora Alice Lupin”…
Pude sentir alguém segurando a minha mão e aos poucos meus olhos se abriam. Pude ver aqueles olhos acinzentados, de um homem barbado e loiro, começando a sorrir com aquele calafrio que subia-lhe a coluna. Ele apertou um pouco mais forte a minha mão e começou a rir.
– Bem vinda ao Mundo dos Vivos!
– Thorn…
Murmuro em tom baixo e posso escutar o arrastar de duas cadeiras mais.
– Mulher do céu… Que este calafrio que você causa seja bem vindo… Pelo amor de Deus! Eu achei que não ia dar tempo de te salvar… Achei que você realmente bateria as botas e passaria desta para melhor… O Jean quase me mata quando te reencontramos e ele viu aquele mundo de sangue ao seu redor…
Vinny não parava de falar. Thorn ria com o disparar do Vinny a me ver viva… Ainda.
– Calma rapaz… Calma… Alice não cai tão facilmente assim.
Thorn puxava Vinny para fora do quarto, para dar chances ao Jean de conversar comigo. Jean se mantinha mudo, olhava-me com o semblante sério.
– Achei que a perderíamos desta vez. Thorn também achou. Por que você fez isso Alice?
Jean não costumava me chamar de Alice tão facilmente e a minha resposta não poderia ter sido pior.
– Se eu esperasse por você… Aquele maldito teria escapado…
Jean então explode diante de tudo aquilo.
– Você colocou um civil diante de um demônio. Fez com que o demônio almejasse a alma dele, Enfrentou um demônio que há tempos estamos perseguindo… Para que Alice? Para acordar o Vinny para o mundo que vivemos? Para poder fazer Justiça acima de tudo, mesmo que isso lhe custasse a vida?
Deixei-o extravasar tudo que ficou preso enquanto eu estive no Vale das Sombras. Apenas o observei do modo que sempre observava a explanação de um caso e quando ele se acalmou pude respondê-lo.
– Você sabe que ele é um desperto desde que ele voltou daquela Ilha. Vinny apenas está incrédulo com tudo que ele viu… Continuará negando, mesmo sabendo que tudo é verdade. Talvez ele venha compreender melhor o mundo que vivemos… Talvez não… O fato é que desde que ele entrou na minha vida… Ele está sujeito a conhecer meus próprios demônios. A única saída para um hacker como ele, será mantê-lo sobre a nossa proteção… Trabalhando para nós O’Toole. Quanto ao demônio… Ele foi eliminado. Mesmo que eu não tenha conseguido libertar as almas que ele consumiu… Ele foi eliminado…
Eu ainda sentia dores no corpo, não sabia quanto tempo tinha passado desacordada e Jean sentou-se na cama… Respirou fundo e olhou para mim mais uma vez.
– Tudo bem Alice…
Suspirava, sabia que não conseguiria vencer a minha teimosia.
– Sabemos que o talento do rapaz está sendo desperdiçado. E já o convidamos para trabalhar conosco. Em uma das agências. Você ficou bastante tempo desacordada. Não imagina a minha briga com o doutor para te manter dopada deixando-a no estágio perto do coma, enquanto fazíamos algumas… Cirurgias em você..
Jean podia ver meu arquear de sobrancelha e ele desvencilhava o olhar.
– Fizemos o favor de diminuir bastante as cicatrizes que você possuía… E você ficará um bom tempo de molho Alice. O trabalho de campo está terminantemente proibido até o doutor dizer que você pode voltar a fazer exercícios físicos de novo. Ordens expressas do Médico e do Chefe e AI DE VOCÊ… Se você inventar de quebrar as regras de novo…
Ele se levantava. Começava a se retirar depois daquela demonstração de macho dominante e antes que ele saísse, Jean pode escutar o meu retrucar.
– Também estou feliz em te rever O’Toole!