Alec esmurrava a porta enquanto Jean se preocupava em selar-la “magicamente”. Sombras retirava a faca da sua cintura e começou a riscar o chão amadeirado, deixando o “filhote” estravazar toda a sua fúria na porta que estranhamente não era arrombada.
– ALEC!!! ALEC!!! – Gritava Júlia, já temendo o pior, pois os calafrios que ela sentiu com o Thorn foram muito piores do que sentira comigo.
– Shhh!!! – Anderson fazia um gesto muito simples para Júlia com um rosto sério e ela arregalava os olhos, quando via-o chegando perto dela e a tocando. Júlia não conseguia compreender porque não conseguia se mover, por mais que ela tentasse e gritava desesperada ao ver cada um de nós nos posicionando fora de um círculo com estranhas runas em que ela estava deitada.
– Você sabe que o que iremos fazer pode desagradar Togarini, não? – Perguntava-me Thorn me olhando de forma séria e eu apenas retirava o meu capote.
– Sim eu sei. Mas eu tenho que dar uma chance a eles e a criança. Já que foi pelo fato de eu ter me metido na vida deles que ela está tendo este contratempo. – respondi de forma calma, dobrando as mangas das blusas e Anderson respirava fundo, retirando a blusa dele.
– Alice, você não me pede nada fácil. Você sabe como eu fico toda vez que eu faço isso.
– Sim! Sim! Eu sei e sei que a cada minuto que ficamos nesta conversa agradável mais próximos estamos de visitar o Vale das Sombras.
Jean sorri de forma animadora, olhando para todos nós enquanto retirava a camisa.
– Ao menos eu poderei caminhar no Vale das Sombras com você. ÔÔô Ceifador!! Quanto de sangue precisamos doar nesta história mesmo?
Thorn fazia uns cálculos, olhou para mim e ficou um tempo pensativo, deixando o tórax desnudo.
– Chronnus, eu precisarei do seu sangue. Paladino, o seu também será necessário, assim como o meu. Alice… Como você não tem sangue neste momento, me perdoe, mas você é quem vai ter que canalizar a porrada.
– AAAALEEEC!! ELES VÃO ME MATAR.. VÃO MATAR O NOSSO FILHO!!!
– Ok! Ok! Eu estou acostumada com a porrada mesmo e Júlia… – Olhei para ela por um momento e com um breve sorriso nos lábios, murmurei. – Seu filho já está morto.
– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO…..
No mesmo momento em que ela gritava, Anderson, Jean e Thorn cortavam os braços, derramando o sangue dentro do círculo, nós quatro entoavamos palavras em um dialeto que Júlia não compreendia. Pude sentir o meu corpo sendo invadido e a sensação de fogo correr em minhas veias, assim como se cada músculo meu fosse dilacerado. Alec batia na porta, uma.. duas… a terceira vez não veio. Nem mesmo os gritos de Júlia eram mais ouvidos. Tudo parecia ter parado, enquanto eu arrancava do ventre de Júlia aquele pequeno natimorto. Minhas mãos enchiam-se de sangue, da vampira e dos únicos que eu poderia confiar naquele momento.
– Sabes que o destino dele já está selado.
Pude escutar aquele murmurar, não ao meu ouvido, mas em minha mente. Eu via não as minhas mãos, mas as mãos de Togarini. O tempo parecia ter parado, mas parou para todos que estavam presentes, menos a quem estava servindo como a ferramenta principal, ou seja… Eu.
– Ele será meu!
– Sim ele será! No momento certo eu o entregarei em suas mãos.
– Que assim seja!
Togarini deixa a criança crescer, usufruindo o sangue ofertado, usufruindo as minhas forças. Nove meses passavam em questão de segundos. Cientistas seriam internados diante daquela cena em que o corpo de um feto crescia e se desenvolvia, humanos chorariam lágrimas de sangue pedindo perdão ao Senhor e voltariam a crer no milagre da vida. Mas ali o milagre acontecia graças a quatro avatares e um Arcanjo da Morte que prestigiava seus necromantes.
– Seu tempo está findando, Inquisidora!
Eu sabia o que ele queria dizer. Ele se referia ao tempo que eu tinha para não me tornar uma zumbi. O feto terminava seu franco processo de crescimento. O tempo não podia ser mais dobrado ao nosso bel prazer e a única coisa que tive forças para fazer, foi colocar a criança para chorar e apoiá-la no chão. Um a um fomos caindo. Primeiro eu, depois Jean, depois Anderson. Quando Thorn, achou que ele iria sucumbir sem forças. Togarini tocou seu corpo.
– Ainda não! Alice precisa de você… Assim como precisará de Jean e Anderson.