Aos olhos de Sombras, eu estava completamente desmaiada. Por mais que ele estivesse preocupado com a minha verdadeira natureza, naquele momento ele sentiu que poderia ajudar Alec e Júlia. Mas minha missão ainda não havia terminado e quando o Lycan se afasta do carro, meus olhos se abriram, espreitando aquela cena tão comovente.
“- É chegada a hora!”
Tudo que eles puderam escutar foi um breve estalar de uma folha seca e sentir aquele vento repentino.
– Não! Não!!! Ela irá matá-lo! Você precisa detê-la meu amado!
Júlia chorava, tentando se erguer e Alec a segurava. No fundo desejava a morte do pai de Júlia, pois apenas assim eles poderiam viver em paz. Sombras olhava ao redor, cerrando os punhos.
– Ela estava inconsciente. Tenho certeza de que estava! – Sombras rosnava, não conseguindo me farejar e nem ao menos sentir a minha presença. Alec sentia sua pele arrepiando. Um arrepio de que algo perigoso estava o espreitando e estava por perto. Por um breve momento teve a estranha sensação de estar observando as costas dele, assim como Júlia sendo amparada e Sombras olhando ao redor.
– GRRRrrrrrr!! – Girou parte do corpo de forma brusca, olhando na direção que tinha tido a sensação de estar sendo observado e apenas recebeu uma outra lufada de vento que parecia ir naquela mesma direção.
Eu não podia envolvê-lo e tão menos deixar Júlia interferir novamente. Estava claro que o pai dela era um perigo para a humanidade, mas principalmente para o meu irmão. Eu podia sentir o cheiro daquele bastardo. Daquele covarde que tinha fugido. A energia azulada circundava o meu corpo o desejo de fazer justiça beirava à vingança pessoal. Árvores rangiam implorando piedade àqueles ventos fortes e o tempo fechava cada vez mais. Relâmpagos começaram a cortar o céu escuro e tempestuoso, iluminando um grande casarão.
– Cinzas! Cinzas! Tudo há de se tornar cinzas!
Um sorriso surgia aos meus lábios. Fino. Sádico. Uma energia com tons verdes e negros começou a circundar os tons azulados. Meus olhos que antes era uma energia azul que escapava de meus olhos, ficava cada vez mais escura. Meus passos avançavam cada vez mais em direção àquela enorme mansão. Alguns relâmpagos atingiam o chão e a aura crescente de medo fazia os animais dentro do raio próximo àquele lugar, fugirem desesperados. Meus passos paravam diante daquela porta. À energia negra que escapava de meus olhos parecia ficar cada vez mais intensa, assim como o vento que começava a fazer os vidros vibrarem de forma agourenta.
Primeira batida.
Segunda batida. Aquele som reverberava por toda a mansão.
Terceira batida. A porta explode em milhões de pedaços e o vampiro pode me ver entrando a casa dele. A cada passo meu, a certeza da verdadeira morte aplacava sua alma maldita. Pude ver seus olhos se assombrarem. Pude escutar os pensamentos que mostravam o temor que ele possuía na certeza de que ele não poderia fugir.
– Criatura infernal, teus atos foram contra os cordeiros D’Ele. Em sua fome matara inocentes, Fora júri e executor e hoje saberás o que tuas vítimas sentiam quando clamavam por piedade, enquanto ceifava a vida de cada uma delas.
O Vampiro via a figura de uma mulher, mas sentia uma presença forte demais até para ele. Seu corpo tremia diante de tamanho pavor. Estar diante daquela mulher era o mesmo que estar diante daquele que lançara a maldição sobre os seus. Seus olhos mal conseguiam se erguer. Lágrimas de sangue eram derramadas vendo aquela espada sendo apontada para ele.
Os segundos pareciam virar minutos e o vampiro pode sentir um alívio repentino. A espada tocava o chão e minha cabeça baixou por um breve momento. Toda aquela sensação de temor desapareceu. Aquela energia parecia ter se dissipado repentinamente e o vampiro ao ver meu corpo estremecer sorriu. Sorriu de forma larga ao perceber que eu parecia não ter conseguido segurar por tanto tempo tamanho poder.
– TOLA MORTAL! CONHEÇA AGORA A MINHA VERDADEIRA FÚRIA!!!
Segundos. Segundos que pareceram tão longos para mim, que pude sentir o cravar daqueles caninos no meu pescoço. Que pude sentir o meu coração bombear de modo forte o meu vitae.
Alec se erguia de forma repentina. Júlia teve uma estranha sensação e começou a rir de forma baixa.
– Alec! O que você está vendo?
Júlia se erguia rindo baixo. Sentia um frisson tomar conta de seu corpo. Alec estava imóvel. Seus braços estavam pendidos ao longo do corpo. Seu coração se acelerava e ele balbuciava.
– Não! Não pode ser!
– ALEC! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – Gritou Sombras ao ver o estado do amigo.
– Você não entendeu, Sombras? A irmã de Alec jamais deveria ter se metido aonde não foi chamada!!! – Júlia ria, sentindo a vitória iminente do pai e Alec se virava para ela furioso.
– CALA A BOCA JÚLIA!!! CALA A BOCA!!!
Sombras mal conseguia acreditar. Estava confuso, viu o tamanho de poder que a irmã de Alec possuía. Havia algo de errado, só podia haver.
O pai de Júlia sugava o meu sangue com prazer. Eu mantinha a minha espada segura. Murmurava algo baixo e ele não conseguia compreender o que eu estava a murmurar.
– Que a justiça prevaleça… Que a justiça prevaleça… Que a justiça prevaleça… Cinzas! Cinzas! Tudo há de se tornar cinzas…
O vampiro gargalhava em sua alma. A moça estava murmurando suas últimas palavras e aquilo o rejubilava.
– Seja feita a tua vontade…
– Para que a justiça prevaleça…
– E que a morte deste maldito…
– Sacie a sua fome…
– Geburah… Togarini…
– É chegado…
– O…
– Mo…
– Men…
– To…
Por um breve momento os meus olhos deixaram de enxergar. Por um momento Alec ficara mudo. Por um momento Júlia não conteve a gargalhada. Sombras erguia os olhos em direção a lua e o Vampiro sorria de modo vitorioso ao sentir meu coração anunciar suas últimas batidas.
Antepenúltima batida.
Penúltima batida. O som reverberava na alma de Alec e aos ouvidos do Vampiro.
Última batida. O Vampiro começa a rir, Alec esmurrava a terra gritando por meu nome.
Meus olhos se abriam. Negros. Negros como o mais profundo abismo.
– Não! NÃO! NÃÃÃOOO!!! NÃO PODE SER!!! – Gritou o vampiro vendo aquelas chispas de energia negra a escapar dos meus olhos. O sorriso sádico tomando conta de meus lábios e a noite virar dia em uma explosão de energia.
Júlia pode escutar o grito de seu pai. Pode sentir uma dor grande tomar conta de seu corpo a fazendo cair de joelhos ao solo. Ela não ria mais. As risadas foram trocadas por gritos de dor, enquanto as lágrimas de sangue eram vertidas em seu rosto.
– Não! Não! Não!
Alec e Sombras olhavam em direção à vampira que sofria com uma perda aparentemente grande demais para ela. O corpo do vampiro ainda ardia em chamas que consumiam devagar o corpo enquanto toda a mansão era destruída na dispersão do poder dos dois arcanjos. Togarini nunca se sentira tão saciado em arrancar a alma daquele ser maldito de forma tão vagarosa, enquanto Geburah mantinha o vampiro vivo diante das chamas que o consumiam.
A casa desabava ao meu redor até o momento em que os arcanjos terminavam o seu serviço e eu terminava o meu.
Meu corpo desabava em meio aos escombros. Geburah e Togarini me observavam. Mantinham-se silenciosos. Alec tremia o corpo. Não conseguia sentir a minha presença. Os gritos de almas torturadas pareciam cada vez mais audíveis para mim e aos poucos meus olhos podiam ver aquelas chamas crepitando. Pude ver os demônios direcionando os seus olhos para a minha pessoa e eu apertei mais forte o punho de minha espada. Era hora de entrar na verdadeira batalha e os demônios pareciam fechar cada vez mais o cerco ao meu redor.
– Alice!
A primeira vez que eu escuto meu nome, ele veio como um sussurro.
– Alice!
A segunda vez o meu nome parecia ser citado como se às minhas costas.
– Alice!
Na terceira vez…
Nunca pensei que ficaria tão contente em ver os sorrisos de Jean e Thorn diante dos meus olhos.
– Seja bem vinda à terra dos vivos!