Ali estava o grande segredo que Geburah guardou por tanto tempo. Um arcanjo que se dizia ser o da justiça, mas que usara um golpe baixo ao notar que eu era uma das poucas pessoas que conseguia suportar a presença do poder de dois arcanjos e deixar eles caminharem por um breve momento sobre a Terra. Ah! Maldita fosse aquela dor e aquele momento que eu estava vendo que o demônio que eu tanto cacei pela morte de meus pais era justamente quem eu menos esperava. Meu próprio irmão.
Eu tomava a consciência de que Alec era meu irmão gêmeo e eu não recordava desse fato, devido ao efeito dos sedativos que sempre tomei em minha vida…
Ele sempre foi para mim um sonho em um mundo que nunca vivenciei momentos de lucidez. A única vez que isso aconteceu, meus pais amanheceram estraçalhados e eu fui levada para um hospício em estado de choque, falando que um demônio os tinha matado. Como não tinham encontrado nada, suporiam por duas vertentes. Uma delas foi a que me levou ao hospício. Uma simples garotinha que tinha matado os próprios pais e que tinha sumido com o corpo do irmão. Outra delas, teria sido que fomos vítimas de um assalto seguido de latrocínio.
Mas, era uma péssima hora para ficar se lembrando do passado. Enquanto Alec ajudava a namorada, eu tentava desesperadamente sair dali. Ficava me amaldiçoando mentalmente por ter deixado aquilo acontecer, mas a visão começava a querer turvar, um sinal de que eu estava fraca. Mais uma batalha e novamente eu havia perdido muito sangue. Eu precisava me erguer. Precisava sair daquele local, antes que Alec me matasse e em minha tentativa de ficar em pé, Alec tentou me impedir de sair dali esquecendo a namorada por um breve momento. Ele queria resposta. Queria saber por que ele sentiu dor também. Temia, mas ao mesmo tempo não deixaria que eu escapasse tão facilmente. Minhas forças estavam próximas de me abandonar, eu precisava explicar para ele que nós éramos irmãos gêmeos. Na verdade ainda somos, mas a mente batalhava para não aceitar a idéia e também buscava me manter lúcida. Não sei se consegui falar, apenas senti meu corpo sendo solto e quando a lucidez retornou à minha alma, aproveitei um momento em que ele tinha voltado para ajudar Júlia… Acho que esse era o nome da Vampira…
Saí cambaleante, deixando as marcas de meu sangue pelo chão e pelas pessoas que esbarrei. Fui para o meu carro. Eu precisava sair dali… A minha trilha de sangue já estava muito grande e ele sendo um lycantropo e tendo uma namorada vampira, facilmente me encontrariam se eu não fosse embora o mais rápido possível…
– Jean…
Murmuro, dando a partida no carro. Eu precisava encontrá-lo. Pisei fundo no acelerador e acelerei meu Jaguar X-Type 3.0 o máximo que pude. Os donos dos carros que estavam estacionados não iriam gostar da nova pintura, sorte a minha que meu jaguar é blindado. Azar o deles. O caminho tortuoso por vezes ficava negro e mesmo sabendo que eu poderia causar um acidente, eu continuei acelerando até chegar no local de trabalho. De dar ao F.B.I. um mármore avermelhado e medo nos olhares dos agentes novatos. Faltava pouco. Jean me encontrou no pequeno hall que antecedia a nossa seção e depois disso veio apenas a escuridão.
– Alice?
A voz vinha tão distante.
– Alice?
Jean me chamava e Togarini apenas me observava.
– “Vai desistir tão cedo, Inquisidora?”
A voz de Geburah era de quem não aceitava desistência e abri os olhos devagar. Mais uma vez em um hospital.
– Que caminhão a atropelou?
Jean olhava-me de forma serena, mas eu podia ver preocupação em seu olhar.
– Ou isso tudo aconteceu por conta de sua última missão?
Pela primeira vez eu disse pra ele que eu não precisaria de ajuda… Senti a preocupação dele apenas aumentar, e logo explicava.
– Desta vez é pessoal Jean.
Pude ver Jean quase não conseguir controlar o calafrio neste momento. Havia medo nos olhos de Jean. Eu ainda voltarei Alecsander Lupin. Ainda vamos esclarecer toda essa história… E nem anjos, nem demônios me impedirão de conhecer a verdade e de lhe contar a verdade.