– Descansai!
Aquela ordem se repetia em minha mente enquanto eu me recordava da pergunta de meu irmão. Meu corpo necessitava do descanso. Havia mais de 24h que eu não descansava.- Eu…
– Não…
– Pos…
Meus olhos começaram a se fechar. Cansaço… Este, com certeza, era o meu pior inimigo.

– Alice!
– Alice!
Não sei como Jean rompeu a segurança da sala, que uma vez fechada só podia ser aberta por dentro, justamente para evitar problemas maiores. Apenas senti meu corpo sendo erguido e Jean forçando os meus olhos para que eles se abrissem.
– Desgraçado! Você não tem dó da sua avatar seu arcanjo maldito? – Vocifera Jean, erguendo meu corpo no centro da sala.
– E-e-ela es-ss-t-tá bem?
Jean apressava os passos, passando pelas velas que se mantinham acesas.
– Eu…
– Depois você resolve isso, ok? – Falava Jean em tom de emergência. – Vinnie!! Lacre a porta assim que eu passar!!!
Vinnie, mal conseguia falar, mas assim que Jean passava pela porta ele acatava as ordens no momento certo de escutar um baque forte contra a porta. O garoto dava um pulo para trás e Jean colocava meu corpo ao chão.
– MÃE DO CÉU!!! – Berrou Vinnie assustado quando via pelo vidro blindado, uma criatura grande com o corpo coberto do que parecia piche e garras enormes tentando arrombar aquela porta.
– ALICE!!!! ACORDA!!! – Gritava Vinnie enquanto Jean começava a recitar algo em aramaico.

– Descansai!!! – Togarini ainda sussurrava em minha mente. Os gritos eram tantos. Fosse de Vinnie, fosse daquela criatura. As palavras em aramaico, foram o que me fizeram girar o corpo e me erguer sobre as minhas pernas. Jean apenas sentiu a minha mão ensangüentada em seus lábios. Eu interrompia o que ele falava, conhecia o que ele estava recitando e era isso que Togarini mais desejava.
– Vinnie… Abra a porta quando eu erguer a mão.
– VOCÊ ESTÁ LOUCA MULHER? VOCÊ VIU O TAMANHO DAQUELA PORRA?
– Aquilo não é uma porra, mas não entremos em detalhes. Apenas abra…
– ALICE!!! EU A PROIBO DE FAZER ISSO!!! – Jean gritava comigo e eu apenas recitava algo muito baixo. Um sussurro digno, apenas para Togarini escutar. Vinnie me viu erguer a mão e rezou para que eu estivesse sã. Sua confiança em minha pessoa o tornava cego sobre os verdadeiros perigos que aquilo poderia significar. Jean viu a porta abrindo e aquela criatura esticando o braço para me pegar. A mão com suas garras enormes já estavam ao redor do meu corpo, os dedos daquela criatura começavam a se fechar. Jean se aproximava e eu já não escutava mais nada a não ser a última palavra que eu recitei. Um grito gutural toma conta de toda a seção 9 e logo Anderson chegava em passos apressados. Vinnie estava com os olhos arregalados, encolhido sobre as próprias pernas, com as mãos na cabeça.
– Isso não é real! Isso não é real! Isso é estafa mental! Apenas estafa mental!

Jean suspirava e se abaixava ao lado do garoto. Colocando a mão sobre os olhos dele, murmurando algo. Logo o garoto adormecia e Jean o levava no ombro para a sala de repouso. Anderson lançou um olhar sobre a minha pessoa e mesmo estando de costas eu sabia que ele não estava nada contente.
– Bela oferenda minha avatar! Agora… Terminai o rito. Apagai as velas e descansai o sono dos justos.
– Sabes que eu não tenho este tipo de sono, mas eu hei de descansar e quando eu tiver feito isso irei ao encontro de meu irmão.
Anderson apenas pode espreitar eu entrando na sala novamente, enquanto deixava minhas pegadas sobre cinzas que estavam espalhadas por toda a sala do ritual e uma parte fora da sala.
– Alice…
– Não me venha com sermões. O ritual não havia terminado…
Anderson apenas escutava aquelas palavras duras, enquanto espreitava da porta o findar do ritual, o apagar das velas e o guardar do material. Eu pegava a minha espada a embainhando novamente e passava ao lado de Anderson que abria a passagem.
– Um de seus convidados inesperados? – Anderson retrucava para conseguir justificar a possível interferência de Jean que parecia estar salvando o mundo quando tocou o alarme geral e requisitou a presença de Vinnie.
– Como pode ver… Nada complicado…
– Você devia descansar, Alice. Você mal se recuperou, está há mais de 24 horas acordada, não se alimentou e ainda resolveu fazer uma festinha particular com Togarini.
Anderson pegou pesado na última parte e ele soube disso quando o olhei diretamente nos olhos.
– Não pense que por servirmos todos a Geburah, eu deixarei de lado o Arcanjo que me tomou como avatar antes do Arcanjo da Justiça.
– Ele está a usando para continuar suas matanças…
– Quem usa quem, Anderson? Togarini estava na minha vida antes mesmo de Geburah me visitar. Você sabe o que ele fez? Sabe o quanto ele me manipulou mesmo sabendo de toda a verdade? Não me venha com sermões Anderson, Geburah tem sorte de ainda me ter como Avatar dele…
Anderson suspira, mesmo sentindo aquele calafrio todo e sabendo que eu estava furiosa.
– Você acabou se tornando uma arma poderosa na mão deles dois.
Anderson me via afastando. Meus passos eram firmes e eu não tinha mais porque dar explicações a ele. Minha maldição era forte demais para que eu continuasse apenas com um Arcanjo em minha vida. Com os dois juntos… A sociedade humana teria alguma chance… Uma pequena chance enquanto eu continuasse caçando aquilo que ela desconhecia, mas que era a maior causa de mortes misteriosas existente.
– Você está bem? – Jean me perguntava a me ver entrar na sala de repouso e abrindo um tubo de tarja negra. – Pude escutar…
– Eu estou bem, Jean. Eu apenas preciso descansar um pouco.
Jean suspirou ao ver que eu jogava três pílulas dentro da boca e as mastigando.
– A dose está maior do que a recomendada… – Murmurou e eu apenas deitei o meu corpo na cama.
– Eu apenas não quero sonhar…