Por mais um momento desfaleci.
Ao acordar naquele negrume, podia vê-los ali, ainda ao meu lado. Estávamos tão próximos da saída e eles mesmo assim se recusaram a sair, a me deixar só no Abismo.
– Este lugar não pertence a vós. – murmurei, erguendo-me exausto, abrindo minhas asas, observando as marcas das novas batalhas.
– Não estamos sós no Abismo, meu irmão e jamais o abandonaríamos no estado em que te encontras.
Não iria esbravejar com eles naquele momento. A mais nova dentre nós, possuía uma obstinação que alguns diriam ser maior do que a minha.
Após ela, aquele que ali se encontrava contemplando as águas negras de um poço, era sábio, ponderado e jamais tomara a decisão errada.
Havia o quarto dentro nós. O mais agressivo e perigoso. O que tinha a visão mais crua e sádica dentre os quatro e este…
Este eu sei que ele nos procurava, tanto quanto eu o procurava.
– Ele está próximo – murmuramos.
– Sim. Está.
Aquela voz…
Minhas asas eriçam, abrem-se de modo imponente.
Um sorriso surge aos lábios da mais nova, que deixa seus olhos vasculharem por todos os lugares.
O terceiro não demonstrava suas emoções, apenas observava a caçula em suas reações e então ambos puderam ver-me levar a mão ao peito, encobrindo o coração e baixar levemente rosto e olhos.
– Já deverias estar fora do Abismo, sabes do que este lugar é capaz.
Repreendia-me, não por que eu me mantinha mais tempo ali, mas por não ter retirado meus irmãos daquele lugar assim que os encontrei.
– Sabes…
Senti em meus lábios, aquele toque das sombras. A presença de quem nos rodeava. Silenciei-me e meneei minha cabeça em reverência.
– Escondam vossas asas por este momento, pois o Abismo não mais pertence apenas a nós. Tanta ira. Tanta mágoa. Não sentem qualquer remorso… Jamais o sentirão… Mesmo pelos Nephilins que arrancam dos úteros de suas mães…
Um sutil toque pode ser sentindo, mesmo não estando presente aos olhos. A presença que sentíamos era mais forte do que qualquer humano gostaria de desejar.
Minhas asas se dissipam como sombras e diante de todos e até mesmo do Abismo, murmurei àquela presença que acompanho desde o início.
– Seja feita a tua vontade, meu Senhor.
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Veja também:
Abismo
Abismo – Parte II
Abismo – Parte III
Abismo – Parte IV