O Abismo se encontrava conturbado.
Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
O quarto irmão fazia seus grilhões serem escutados.
Antevia os passos de minha irmã, seguia-a como uma sombra, sabendo dos perigos que ela enfrentaria se fosse só.
Sabíamos eu e Estrela-da-Manhã, o preço que seria cobrado.
– Não podes protegê-la para sempre.
Ele estava certo, mas ainda dói-me o peito a simples possibilidade em pensar que algo acontecendo aos meus protegidos, eu jamais me perdoaria, sabendo que antevi e que poderia evitar algo de ruim.
Ao longe escutava outros sussurros, via o que ocorria em outros locais fora do Abismo.
Minhas asas cresciam como extensão daquelas sombras e meu olhar ficava mais distante.
– Venha! Não podemos mais ficar aqui.
Havia uma voz imponente. Uma ordem e não um pedido formal de apenas preocupação e por mais que eu pensasse em relutar. Os dedos dele se fechavam em meu braço.
– Não te deixarei para trás.
Parte de mim relutava, eu conhecia os caminhos sombrios, sabia os locais certos para cada uma de minhas batalhas, sabia como enfrentá-los, via cada caminho, cada fim, cada futuro moldável.
Meu coração pulsava, pois a cada passo avançado, as batalhas tornavam-se mais árduas.
A insanidade poderia vir se instalar ao coração e à mente de quem eu menos desejava que fossem tomados e o Abismo não perdoava.
– “Apenas aqueles que aqui habitam, são capazes de saírem vivos”.
– O preço poderá ser alto demais. – Aquela voz se impunha sobre o sussurrar do Abismo, tão cativante, pois ambos sabíamos que havia muito mais em jogo e que as batalhas deviam ser longe dali.
Rosnei levemente e em minha resignação murmurei que minhas asas às vezes agiam por conta própria.
Ele sabia a cruel verdade que isso significava aos Guardiões e serenamente pediu-me para que não batalhasse mais só naquele local.
Concordamos em sair do Abismo por um tempo, pois no fundo, nos conhecíamos e sabíamos que o Orgulho é um dos nossos piores defeitos.
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Veja também:
Abismo
Abismo – Parte II
Abismo – Parte III
Abismo – Parte IV