Meus irmãos têm deixado suas vozes marcarem os ventos que acariciam minhas asas. São marcas de dor, ódio, decepção. São tantas marcas mais, que por tempos me encontrei em profunda letargia, flutuando no escuro e profundo abismo.
Pude sentir as vozes dos que silenciaram, daqueles que buscavam um abraço, ou palavras de compreensão.
Senti a presença dos solitários, daqueles que se desesperaram, dos que queriam compaixão.
Mas não há mais compaixão em meu peito, muito menos respeito por aqueles que se mantêm fracos.
Não há porque acariciar os cabelos, superprotegendo os pobres coitados, achando que eles não estão preparados.
Em meu reino não há brincadeiras, segundas chances demais, nem como parar o tempo.
No Abismo há eternas batalhas, ferimentos constantes, há sangue demais.
Não tenho tempo para lágrimas derramadas, deixo-as com um guardião mais apto.
Não tenho tempo para orgulhos feridos, deixo-os com o manipulador do pecado dilacerado.
Não tenho mais o inexorável tempo, para fechar minhas asas ao redor do mundo que não me pertence.
Afundo minhas garras ao peito dos que aqui mergulham, deixando-os alertados que não há tempo para brincadeiras.
Deixo meus olhos obscuros, qual esfinge insaciável que jamais se matará, acaso o enigma seja desvendado.
Não há um simples decifrar, ao que mergulhas neste reino.
Não há um simples sobreviver, ao que afundas neste reino.
Decifra-nos ou serás devorado.
Sobrevivas e ganharás conhecimento para mais um dia no esquecimento.