Meus pensamentos andavam distantes.
Os ventos arcadianos andavam mornos, estranhos, confusos.
Cheguei a abandonar por um breve tempo o Palácio Elétrico e me embrenhar nas matas atrás da Rainha Sidhe.
Às vezes minhas penas se eriçavam, pois eu sentia a presença da rainha nos corredores que permaneciam escuros naquele palácio. Às vezes chegava e sentir meu corpo inteiro estremecer ao me deparar com aqueles olhos vazios de um fantasma que vaga pelas mesmas trilhas que um dia ela caminhou.
Mas tais assombros são apenas para meus ouvidos e alma.
Aqueles que são tocados por minhas sombras e que um dia foram tocados pela luz da rainha, ainda podem escutar o vento gélido que ela carrega e às vezes confrontar o olhar vazio de quem carregara as alegrias de tempos de glória.
– Minha Rainha… – murmuro, deixando minhas asas a abraçarem ao encontrá-la nos labirintos de espinhos e sangue.
Podia sentir aquele abismo que carregava dentro de si.
Um local tão obscuro capaz de me sugar todas as energias e lembrar a ambos a dor e o peso de grilhões.
– Deves…
Ela virou seu corpo, encarando-me aos olhos daquela forma que eu não podia evitar. Tocara meus lábios fazendo meu coração descompassar e então tudo mudara…
Senti meus pensamentos escaparem, o ar faltar em meus pulmões. Rebusquei o ar o mais forte que eu pude, enquanto meu corpo era inundado por aquela tristeza e compreensão.
Meu corpo tremia. Minhas asas tremiam… E aquelas palavras ainda ecoavam em minha mente.
Com o tempo voltei ao Palácio, com minha alma mais sombria do que ela já se encontrava.
Algo mudara dentro de mim e o Rei percebera este fato.
Não trocávamos palavras…
Mas desde aquele dia, meus olhos não são os únicos a contemplar o horizonte distante.
Meu coração não é o único a conhecer o compasso e o descompasso dos corações reinantes…
Desde aquele dia, sinto os guardiões erguendo seus corpos…
Abrindo suas asas…
Esperando suas novas batalhas.