Voava pelos Reinos em meus pensamentos distantes, lembrando-me da surpresa em que me encontrei, quando horas atrás, felicitava Lorde e Rei por um dia que pertencia a eles.

Recordo-me perfeitamente de estar com um de meus joelhos a tocar o chão, naquela forma respeitosa dando tais felicitações, quando o Rei ajoelhou-se em meio aos salões de seu castelo, respirando fundo, longe daquilo que o possuía, deixando que outro sentimento o tomasse.

Lembro-me de ter entreaberto os lábios, rebuscado o ar ao presenciar aquilo tão próximo do alcance de meus dedos.

Alguns mortais ou criaturas podem vir a achar que minhas sombras são carregadas de apenas tristezas e lamúrias e talvez não venha compreender o breve fechar de meus olhos perante tamanha imponência daquele momento.

Não havia lágrimas, preocupações, não havia porque interpretar de forma errada aquilo que se apoderou do Rei.

Mas, Anjos são sempre Anjos e Guardiões não possuem descanso.

Sons eram trazidos pelo vento.

Andarilhos que seguem seus caminhos…

Anjos feridos que deitavam suas lágrimas pelos prados…

Ecos do passado que se tornavam mais presentes no rufar dos tambores de guerra.

Esperei o Rei e Lorde se afastarem para averiguar o que o vento sussurrava entre as penas negras de minhas asas.

Foi nesse vôo com pensamentos distantes que pude presenciar o primeiro eco de tempos antigos.

Não muito distante era visível ver aquelas asas tão feridas, aquele corpo fraco, aquele olhar opaco.

Repousava ao lado de um anjo que outrora tivera olhos tão vivos e uma serenidade invejável.

Pude sentir aquele abraço, aquela confusão de sentimentos que o possuía. Escutar aquelas palavras que se formava em um turbilhão sem início, muito menos fim.

Mesmo em seu olhar opaco, contava-me de suas batalhas, de suas feridas. Revelava-me que mergulhara em um abismo e que não conseguia mais se livrar dos grilhões que o cercaram.

Meu cenho franzia, pois havia sido uma surpresa reencontrar aquele anjo de antigas batalhas, só que ao mesmo tempo doía-me ver que a serenidade dele desaparecera e assim como Azazel, sua luz fora tomada.

Pude escutar seu lamuriar, relembrando-se do passado e ele pode me ver suspirando.

Estávamos ambos mudados e ele pode perceber isso, retirando-se e arrastando seus pesados grilhões.

Os ventos não estavam gelados…

Pelo contrário, estavam amornados…

Mas, como eu disse anteriormente, Anjos são sempre Anjos e Guardiões não possuem descanso.

Não quando uma fúria é urrada ao ponto de estremecer os prados.

Não quando outros ecos tornam-se tão presentes.