Veja também: Vigílias Noturnas – Parte 1
Para o Cigano que ansiava retornar a territórios que ele tão bem dominava, deixar aquele local cercado por matas verdejantes e seres do passado era um alívio cativante, mas para a Inquisidora, ver aquele local se afastando e ficando em suas lembranças significava retornar às batalhas mais pesadas e que não tinham piedade.
Ela respirava fundo ao retornar para o cenário petrificado, enquanto o cigano sorria exaltado.
– É parece que finalmente chegamos!
A inquisidora concordava desanimada, esmiuçando seus olhos ao perceber de longe o carrasco que se aproximava em seus passos pesados.
– Finalmente chegaram.
Confesso que foi engraçado ver aquela reunião, já que o cigano e o carrasco se davam tão bem e a inquisidora gesticulava com a cabeça com o melhor ar…
“– Não… Nós morremos e você não percebeu… É claro que chegamos…” – Sim… Chegamos.
O cigano não chegou a perceber o mau humor da inquisidora, nem mesmo percebeu a minha presença. Na verdade demoraria um pouco para ele perceber… Tudo aconteceria quando retornassem ao território deles.
[…]
– Ele já saiu… – A inquisidora murmurou olhando para o chão enquanto deixava o caos reinar a casa.
– Você parece não ter gostado da volta. – murmurei observando-a.
– O cigano pode estar gostando, mas quando a noite chegar, eu sei que ele vai perceber que não é tão fácil voltar a esse local.
– Dê tempo ao tempo… – comentei já sabendo que ela tinha o mesmo pensamento, mas a noite realmente tinha muito que falar para os que retornavam ao lar.
[…]
– Não consegue dormir inquisidora? – murmurou o cigano, tentando achar uma forma de dormir e de não escutar todas aquelas vozes e sons.
– Demora um pouco para eu me re-acostumar com os sons… Com o respirar dessa casa. – ela respondeu com os olhos fechados e ar cansado.
– Droga! Esqueci como era isso tudo…
Ela sorriu e acariciou a cabeça do cigano sem nem mesmo olhar para ele. Sabia que eu estava por perto e então explicou ao cigano que ele devia se acostumar rapidamente com o ritmo noturno, pois ambos possuíam papéis diferentes no cenário petrificado e ela não poderia ficar fazendo o papel de ambos, como fizera na casa do Criador de Magia.
[…]
– Inquisidora…
Ela abriu os olhos rapidamente durante a madrugada e respirou fundo. Espiou o teto por um longo tempo e murmurou:
– Eu sei Asas Negras. Ele vai demorar a se re-acostumar também… Mas está chegando o momento em que eu não poderei mais proteger o Cigano… Por mais que eu queira.