Estava em meu corpo mortal, caminhando em um terreno. Um local que apesar de estranho, parecia um tanto quanto familiar.

Não muito longe de mim, estavam aqueles que caminham ao meu lado desde outras vidas terrenas. Não sendo caídos ou até mesmo meus antigos irmãos, o elo se mantém firme com os mortais por eras.

Mas eu sabia que cada qual possuía sua missão, mergulhando nos intricados corredores de um labirinto moldável.

Destino sabia o que fazia e era chegado o momento de algo mais ser resgatado.

Risadas. Jovens que se aglomeram em suas tribos de orgulho arraigado em seus incautos passos. Minha forma humana era necessária no momento em que encontrei aquela forma de vida divertida em sua ingenuidade.

– Você sabe o que é isso? – Perguntou-me vitoriosa em seu sorriso prepotente, mostrando três grades que se encaixavam perfeitamente em seus desenhos intrincados.

Apenas ergui meus olhos, buscando os dela para depois voltar aos detalhes daquela bela armação férrea.

– É o livro de Lúcifer, o primogênito. Aquele a quem chamam de Estrela da manhã, o mais belo dos belos e mais sábio de todos os anjos. Que tivera sua queda devido ao seu orgulho…

– Eu sei quem ele é. – Cortei-a sem cerimônia alguma, mostrando desinteresse no conhecimento dela, pois o que me chamava a atenção ali, era justamente o que agora estava sobre a mesa entre as minhas mãos.

– Você não conseguirá ler. Apenas uma verdadeira bruxa, consegue ver as páginas e dominar o conhecimento que este poderoso livro possui. Suspirei, deixando um indício de riso abafado, escutando toda aquela arrogância, enquanto abaixava meu corpo, mantendo as mãos sobre a mesa. As pessoas que observassem as grades vazadas pensariam que a dita bruxa estava abusando da sorte e quantas pessoas mais acreditariam naquela farsa que ela defendia com tamanha afirmação.

Meus olhos esmiuçavam cada vez mais, à medida que meu corpo reclinava para trás, pequenas ondulações tornavam-se fluidas e começavam a borrar a visão da estampa atoalhada.

Murmurei, em um quase sibilar, algo, abrindo a primeira grade serenamente. Meus dedos acariciavam o toque frio que percorria meu corpo e o sadismo tomava conta de meus lábios.

Pude sentir minha pele se arrepiar em um doce frisson com a presença do medo de quem estranhamente silenciara.

– Obrigada… Bruxa…

Ri baixo, em posse do livro, percebendo que a “verdadeira” bruxa não mais se encontrava ao meu alcance.

Não poderia ter sido mais perfeito, do que receber em mãos, aquilo que um dia fora roubado e que busquei por tanto tempo.

– Não demorará muito mais…