Ele havia a deixado ali, olhando-a aos olhos e tão silencioso quanto ele se aproximara, partira. Rowanna por mais que tentasse arrancar as palavras dos lábios para impedir-lo de ir, não conseguiu. Mais uma vez ficara muda, como ficara à Taverna. Via aquele rapaz se perdendo dentre a multidão, a qual ia esvaindo aos poucos até que a segunda se encontrasse só perante o cenário que não trouxera maiores explicações.

Suspira, abaixando os olhos vendo ali o manto aos seus pés. O único sobrevivente de um cenário grotesco que pintava as paredes de vermelho. Abaixou-se, deixando os dedos fecharem-se no manto ensangüentado, murmurando em voz tristonha depois de tanto tempo.

– Aalea!

Chorou por um tempo, sentindo a dor que lhe apertava o peito. Murmurou aquele nome repetidas vezes, enquanto o vento frio e as sombras pareciam assombra-la.

– Alexia! – Arregalou os olhos, lembrando-se da mais velha e correndo voltou para a taverna. As pessoas murmuravam algo, fechando um círculo ao redor da mesa onde antes sua irmã se encontrava e abrindo passagem correndo, podia ver o Taverneiro e a esposa, acudindo a pálida irmã.

– O que viste com teus olhos, Sábia Alexia? – Murmurou a esposa do taverneiro, que limpava os olhos manchados de sangue daquela que acudia.

– ALEXIA! – Sobressaltou-se Rowanna, aproximando-se rápido dela, e Alexia apenas tocara seu rosto, desvencilhando os olhos que ainda se encontravam vermelhos pelas lágrimas de sangue.

– Nada que a vila possa vir a temer. – Respondeu cansada a mais velha das três, erguendo seu corpo e então se afastando.

Burburinhos maiores vieram a acontecer e Rowanna se sentia perdida, notando que muitos haviam sentido o mesmo, diante das palavras da sábia irmã. Alguns achavam que a vila estivesse amaldiçoada e que poderia ser engolida pelas trevas da Floresta Negra, mesmo estando a três dias de viagem. Outros achavam que as moças seriam devoradas em pares e que deviam ser trancadas em casa ao anoitecer, e Rowanna sentava-se a uma cadeira, vendo a irmã mais velha cada vez mais distante e mais uma vez sentira uma mão ao ombro.

– Não ligue para o que falam.
Rowanna sentiu o coração descompassar, era aquele rapaz mais uma vez à suas costas. Ele a rodeava, puxando uma cadeira para frente dela se sentar.

– Eles possuem medo do que desconhecem.

A segunda das três sente o corpo estremecer e depois a mão dele segurando-a e confortando-a.

– Venha. – Ele se erguia, ordenando-a que o seguisse e Rowanna ergueu-se, deixando que ele a conduzisse.

O jovem rapaz subia as escadas e ela se sentia confortável ao lado dele. À frente de uma porta ele parou, deixando os dedos deslizarem pelo queixo de Rowanna, erguendo-o e olhando fundo aos olhos dela.

– Estás confusa, com muita dor em tua alma. Terás pesadelo esta noite, mas nada poderei fazer… Neste momento.

Rowanna sentiu o rosto queimando ao ouvir aquelas palavras.

– Estarei ao meu quarto. Agora vá. Há alguém mais precisando de ti neste momento de grande dor.

Deixou-a mais uma vez, inerte diante de suas palavras, parada à frente da porta em que deveriam ter três irmãs e por um breve momento sentiu-se tola por não conseguir balbuciar palavras e via quando o rapaz, adentrava em um outro quarto, sem sequer olhar por cima do ombro ou dirigir-lhe mais uma vez o olhar.