Risos.

Aquele local escuro trazia aos seus ouvidos risos.

Por um momento pode notar duas jovens a correr. Rodopiando em meio aos campos de trigo e acenando a ela. Aquele mar dourado movia-se de forma preguiçosa como a superfície da água soprada ao vento e os gritos alegres pareciam tão convidativos, mas um gralhar congelava sua espinha e o mar dourado tornava-se sombras.

Sombras que cercavam aquelas duas jovens que antes pareciam tão alegres. Crescendo como um visco negro e pegajoso que crescia e mergulhava como um mar revolto.

Corriam aquelas duas jovens, tendo seus pés sendo puxados pela terra que queria tragá-las. Em passos cada vez mais pesados elas agora corriam separadas.

A mais nova soltava um grito. Mãos gigantescas subiam da terra negras segurando seus braços abertos e começaram a puxar em direções opostas. Os gritos intensificavam cada vez mais e seu rosto contorcia-se em dor. Ossos quebrando pele sendo rasgada e o grito não cessava.

A outra ainda corria em seu desespero não parava e quando a primeira tinha seu corpo partido, derramando o sangue naquele chão negro. Aquela que a tudo assistia, notava o chão se levantando, bebendo daquele sangue como se saciando, devorando o coração enquanto as mãos gigantescas agora cravavam ao chão, erguendo aquele corpo enorme que fazia o chão tremer com seu urro. Sentia-se presa, estática a observar toda aquela cena, vendo os trigais reduzindo-se cada vez mais àquele visco negro.

Uma risada sádica, canhestra cortava o ar e a criatura mergulhava ao chão para surgir à frente da segunda jovem que corria. Seu salto, deixava o corpo gigantesco sair do chão e ela podia ver quando o predador mergulhara, segurando o pescoço de sua presa. Primeiro mordendo-lhe o rosto, desfigurando aquela jovem que tentava fugir. Ela gritava em uma dor tão intensa.

Mesmo tendo o rosto desfigurado, tentava se libertar de alguma forma e o som dos ossos partindo, continuou o derramamento de sangue. Agora o choro se tornava intenso e em gritos implorando para parar. O terror que aquela segunda moça sentia acorrentava a espectadora àquele local que gritava e implorava para aquilo parar. Os risos se tornavam mais guturais em meio aos prantos da segunda moça que continuava tendo seus ossos quebrados aos braços e o corpo sendo jogado ao chão já completamente negro naquele local sombrio e frio.

A criatura mergulhava mais uma vez sobre aquela segunda jovem, deixando suas garras sombrias rasgarem-lhe a pele, alimentando o solo e seu corpo com sangue. Ela via aquele ser monstruoso puxando a cabeça da jovem para trás, deixando sua natureza sombria penetrar com fúria naquele corpo frágil que gritava e chorava, rasgava-a e arrancava-lhe a pele, enquanto a garota implorava para parar.

Costas, seios, abdômen, nada era mantido intacto, a desfiguração de cada traço daquela jovem fazia a espectadora chorar e a criatura não parava, enfiando-se cada vez mais no corpo daquela pequena moça delicada. Aqueles gritos, aqueles risos… Seus olhos se mantinham estarrecidos, presos àquela cena. Seu corpo tremia e aquela criatura virava a segunda jovem parecendo buscar alguma parte que ainda não havia sido lacerada, deixando seu corpo entrar e rasgar mais ainda o corpo da jovem que não conseguia mais gritar a não ser derramar lágrimas, já sem forças para pedir ajuda e mais ossos eram quebrados, com a ajuda de presas afiadas que conseguiam romper uma proteção que parecia inviolável àquele tipo de ataque e então aquelas sombras envolviam o corpo inteiro, consumindo o coração que dava seus últimos batimentos.

A criatura tremia, sorria e ela finalmente era libertada. Outro urro que tremia a terra transformando o que antes eram trigais em uma floresta com garras em seus galhos.

– Duas já foram…

– ROWANNA!!! – o grito sai depois de um despertar brusco. Seus olhos violáceos buscavam nos arredores a sua segunda irmã e logo caía em prantos ao se lembrar daqueles olhos dourados, daquele sorriso, satisfeito e extasiado, e a certeza de que Rowanna não voltaria mais.