Alguns dias se passaram. A mente dela diria que haviam sido semanas e até meses. Havia previsto a morte de cada uma dentro daquela casa que se erguia sombria diante de seus olhos. Jamais achou que os braços e garras daquela floresta se estenderiam aos limites daquela vila. Havia um sadismo grande nos atos de quem as perseguia. Sarcasmo que se vestira em pele de frágil moça e de misterioso e charmoso homem. Uma a uma, elas caíram cegas por aquelas ilusões que envolveram-nas mostrando o quão tolas eram diante das ameaças de seus inimigos. E diante desses fatos seus olhos violáceos abaixaram-se. Sabia que era a terceira das três e a última que enfrentaria a dura realidade.
– Duas já foram… – Murmurou, em tom baixo, recordando-se das palavras e dos olhos que mostraram-se vitoriosos e extasiados.
Sentiu um calafrio percorrer-lhe a pele e mais uma vez voltou a observar a casa.
Seus sonhos permaneceram sombrios, as pessoas pediram para ela não retornar à Floresta Negra e mesmo assim ignorou tais clamores.
A porta rangeu baixa em um choro lamurioso de quem previa a morte da última moradora daquele lar. Sombras se espalhavam no ambiente e nem mesmo os raios de sol pareciam ter forças.
Escutava seus passos acusando-na no ambiente e as lembranças cada vez mais fortes à medida que deslizava os dedos nos móveis. Outro choro lamurioso denunciava a porta se fechando com calma e Alexia sequer olhou para trás.
O som baixo de madeira sendo arranhada, chegava aos seus ouvidos, tal qual o deslizar de unhas às costas de uma amante. Sua pele arrepiava-se à medida que o som se aproximava.
Não podia controlar o coração pulsando forte e não ousou olhar para trás ou sequer erguer os olhos. Não falou ou rogou maldições.
Logo tudo acabaria. Aquele pesadelo chegaria ao fim e suas unhas lembravam-na disso à medida que cravava-as à palma da mão.
O sorriso despontou aos lábios enquanto a observava parada e silenciosa. A mais velha, das três, vinha sendo assombrada pelos sonhos, os quais mostravam a morte de suas irmãs. Sabia que a dor no coração a assolava por não ter feito nada para salvar suas irmãs. Tinha certeza que a alma estava dilacerada por culpa e covardia…
– Alexia… – Seu rosnar veio baixo, enquanto suas mãos repousavam aos ombros dela. Deixou as garras deslizarem por aquele manto e seus olhos dourados observarem os traços delicados mostrados à medida que retirava o manto.
Um pedaço de pano necessário para protegê-la dos galhos traiçoeiros e arbustos sedentos de sangue.
– Tão forte, porém tão frágil… – Rosnou, rindo baixo e abafado.
– Monstro! – Rosnou, Alexia, entre os dentes, virando-se bruscamente, erguendo os braços para bater com os punhos fechados ao tórax de seu inimigo. Mas seu ato fora interrompido e ela pôde sentir seus pulsos sendo segurados.
O riso se alargou aos lábios e Alexia pôde sentir a respiração quente tão próxima a ela.
– Monstro? – Bramiu baixo e rouco. Deixou Alexia sentir os braços sendo jogados para trás. Torcidos com facilidade, mostrando-lhe a dor de quem não teria forças para trazê-los para frente e lutar contra ele.
– Quem seria o verdadeiro monstro, Alexia? – Seu rosto roçou ao dela, puxando-a para ele. Sentiu o aroma predominante à pele da mais velha, eriçando seu corpo, apertando suas mãos mais firmemente aos pulsos delicados da mulher.
Seus olhos brilharam com intensidade ao sentir Alexia tentando libertar o pulso, evitando o deslizar de seu rosto ao dela. Mordeu-a ao ombro desprotegido, sem rasgar-lhe a pele, obrigando-a gemer baixo, fazendo a resistência dela esmorecer. Seus dentes roçaram à pele de Alexia, murmurando ao ouvido mais uma vez.
– Quem é o verdadeiro monstro, Alexia?
O corpo de Alexia tensionou mais uma vez com aquelas palavras. Aquele bramir baixo e rouco em seu ouvido, mostrava que a ela a morte não viria de forma rápida como as de suas irmãs.