O corcel seguia em seu galopar furioso, buscando mais uma vez a Floresta Negra, mas à medida que ela avançava, os uivos pareciam se intensificar, seu coração disparava como o galopar que o seu cavalo fazia. O rapaz que havia perguntado se ela estava bem, havia saído correndo da estalagem e pode apenas presenciar o cavalo já ao longe indo em direção à Floresta onde a noite parecia ser eterna. Mas a noite poderia trazer mais surpresas do que se podia imaginar. Olhando para os lados, o rapaz assume sua verdadeira forma, alçando o vôo nos céus, para poder tentar alcançar a mocinha que parecia aterrorizada com um simples uivar de lobo. Mas a transformação não passou despercebida e um leve rosnar foi solto, quando olhos mais atentos observavam o destino da moça e para onde aquele ser alado parecia voar. Um simples assobio foi solto e logo um corcel tão negro quanto a noite surgia para levar aquele que tinha observado tudo na taverna para o mesmo destino dos outros dois. A noite mostrava em sua abóboda celeste e negra a Lua do caçador. Uma lua que abençoa seus filhos, enquanto almas inocentes transitam desavisados do que estaria para ocorrer. À beira da Floresta Negra, o cavalo pateia arredio, os uivos estavam próximos demais e seguir as trilhas daquela floresta poderia vir a trazer a morte tanto do cavalo quanto da mocinha. Ela não podia forçar a entrada dele naquela Floresta que mostrava tamanho perigo, deixando que o Cavalo partisse por outro caminho. Os passos logo se transformam em corrida. Uma corrida que buscava levá-la para o centro da Floresta em busca de uma Velha. Uma velha que a tudo sabia.

– Que Willow tenha as respostas que eu busco.
Talvez, apenas a Velha Willow, que tanto era temida e respeitada por todos, pudesse vir a responder àquela mocinha que um dia acordou naquela Floresta com o coração assombrado com aquele simples uivar. Sua respiração estava arfada, o coração continuava acelerado. A floresta sussurrava, lamuriava-se com aqueles farfalhares de suas copas e os uivares que pareciam circundá-la cada vez mais. Havia algo ali. Havia muito mais do que simples farfalhares e uivares. E no fundo ela sabia que não estava só. Que nunca estaria só. O quebrar de pequenos galhos seguido de um rosnar gutural, fazem com que seus olhos tão claros encontrem de repente aqueles olhares amarelados. Um avançar. Um grito. E a noite estava apenas iniciando.

– Por que? Por que eu?
Gritava ao ver aquela massa enorme de pêlos negros e olhos tão amarelos quanto os olhos vistos apenas em lobos. Seus passos seguiam para trás tentando fugir daquela criatura que estava ali e que respondia de forma gutural em seus rosnares.

– Por que Chapeuzinho? Porque este é seu Destino!
A proximidade era muito grande, as garras daquele ser que tinha o dobro ou o triplo do tamanho de um homem cravavam na árvore em que as costas dela tinham se encontrado com o tamanho pavor que estava daquela criatura.

– NÃÃÃOOOO!
Vinha seu grito com o girar do braço, parecendo que ela queria empurrá-lo para trás. Mas tal empurrar arrancou um uivo horrível daquele ser de pelagem negra e olhos amarelos.

– MALDITAAAA!!!
Ela pode sentir o seu corpo sendo arremessado com um simples tapa daquela criatura que sentia o ferimento queimar.

– Esta caçada termina hoje Chapeuzinho!
Com os sentidos atordoados, tentando se recuperar do golpe sofrido, ela buscava seu punhal.

“O Punhal… Onde estava o Punhal de Prata?”
Era esta realidade que a trazia de volta junto com a dor que a movia em busca da única coisa que poderia dar-lhe uma ínfima chance de vida. Ele estava certo. Aquele ser estava certo. Tudo devia terminar naquela noite…