Os olhos de O’Reilly não poderiam ser outros além de olhos confusos e apavorados com aquele chegar furioso dos homens da Vila. Acusavam-na de bruxaria e olhavam-na como se olha um animal que iria para o abatedouro. O’Reilly estava quase sem voz com medo do que o destino reservava a ela, e pode sentir o exato momento em que a puxavam pelos cabelos para que ela se erguesse e respondesse as perguntas que ela não teria as respostas.
– ONDE ESTÃO ELES?
– ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS?
Gritava de dor quando a puxavam, fazendo com que pisasse nos cacos dos potes que haviam quebrado quando tombaram no chão, potes que trouxeram a ela o sentimento de preocupação.
– Eu não sei… Eu não sei…
Chorava em meio a dor, enquanto sentia os pés úmidos com o sangue que fluía pelas feridas abertas. Sentia a dor aumentar ao que um tapa era desferido em sua face em tamanha fúria, quando um grito dizia ter encontrado em meio ao sangue e barro dentes de crianças.
– BRUXA MALDITA O QUE FEZ A ELES?
O grito vinha do pai de Fionna e Ryan, que agora a jogava contra a mesa cheia de potes de barro. Mais potes caíam e se quebravam, revelando aos olhos dos pais assombrados, dentes que estavam guardados. O corpo de O’Reilly tremia e suas mãos se feriam em meios aos cacos, diante do desespero que lhe assolava o coração. Desespero que trazia medo, quando sentia mais uma vez o seu corpo sendo erguido pelo puxão de seus cabelos que a faziam ficar em pé mais uma vez. A fúria daqueles homens tornava-se incontrolável, quando O’Reilly tinha o corpo jogado mais uma vez contra a mesa e alguns homens a seguraram de modo firme.
– ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS SUA BRUXA MALDITA? O QUE VOCÊ FEZ A ELAS?
– EU NÃO SEI… EU JURO QUE NÃO SEI…
O’Reilly sentia suas roupas sendo rasgadas, desnudando-a diante daqueles furiosos homens. Mas a fúria não seria vingada com atos que trariam a vergonha àquela mulher que parecia ser a causa do desaparecimento das crianças. A fúria traria outra vingança sobre a infeliz mulher. E aos poucos, gritos de dor encheram a Floresta Negra. Gritos que eram carregados pelos assoprar dos ventos noturnos. Gritos que vieram, quando ela pode sentir a sua pele sendo queimada com o jogar da água quente sobre sua pele, enquanto tentavam arrancar de seus lábios uma resposta que ela jamais poderia dar.
– ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS? O QUE VOCÊ FEZ A ELAS?
A pele do corpo de O’Reilly começava a querer desgrudar do corpo. Ela não tinha mais forças para gritar e mais uma vez seus cabelos eram puxados. Os homens não tiveram as respostas que queriam. As crianças ainda estavam desaparecidas e O’Reilly era arrastada para fora de sua cabana. Era arrastada pelas trilhas que a levariam para vila. Para aqueles homens, os gritos de O’Reilly devido a dor, não trariam compaixão aos seu enrijecidos corações. Eles tinham perdido seus filhos e O’Reilly devia pagar por seus pecados.