O’Reilly gritava e chorava quando pedaços de sua pele eram arrancados de seu corpo pelas pedras e galhos que tinham nas trilhas que levavam à sua casa. Sentia pedaços do couro cabeludo arrancados devido a força exercida no arrastar de seu corpo desnudo e quando mais uma mecha grossa servia para continuar a arrastar o seu corpo em direção à vila.

– PAGARÁ POR SEUS PECADOS BRUXA MALDITA! PAGARÁ POR TODAS AS CRIANÇAS QUE VOCÊ USOU EM SUAS FEITIÇARIAS!

Ela agarrava a mão do Pai de Ryan e Fionna, seus dedos tentavam libertá-la daquela agressão toda que ela sofria. Não tinha feito nada a eles. Seria incapaz de ferir uma criança que fosse.

– EU NÃO FIZ NADA!!! EU NÃO FIZ NADA!!!

O’Reilly sentia o seu corpo tombar ao chão. Ele havia a soltado. A trilha até a sua cabana continha o sangue dela, mas antes que ela pudesse esboçar algum alívio, O’Reilly pode sentir um golpe desferido contra sua face. Contra seu tórax, seus braços, suas pernas. Pode sentir o quebrar de alguns ossos. Pode ver em meio a uma visão embebida em sangue o clarão que tomava a escuridão daquela Floresta. Sua casa estava sendo queimada e com ela os dentes das crianças que tinham tantas esperanças em dar mais conforto aos pais que agora laceravam o corpo de quem apenas se contentava em alimentar as esperanças dos pequenos rebentos. Sua mão erguia-se na direção que sua casa ficava e mais uma vez seu corpo era arrastado pelos cabelos. Mais uma vez ela sentiria cada pedaço de sua pele sendo rasgada pelos percalços do caminho.

– eu não fiz nada!!! eu não fiz nada!!!

A voz de O’Reilly vinha de modo fraco e a mulher podia sentir seu corpo sendo erguido e algo apertando seu corpo nos pulsos, no tórax, nas pernas. Sentia algo apertar-lhe o pescoço. Algo atingir suas pernas. E finalmente um calor repentino. Um calor que começava a fazer sua pele arder e seus gritos recomeçarem, quando ela não conseguia se livrar do que a prendia. Coisas que começavam esquentar e a queimar seus músculos que perderam a pele, ou a pele que ainda lhe restava.

– MEDIANTE AOS TEUS ATOS DE BRUXARIA!!! MEDIANTE AO DESAPARECIMENTO DAS CRIANÇAS QUE FORAM USADAS EM SUAS POÇÕES!!! NÓS A CONDENAMOS À MORTE!!! QUE SUA ALMA…

– SRA. O’REILLY… PAREM!!! PAREM!!!

Os olhos dos pais se arregalam ao escutarem aquele grito infante desesperado. Voltavam-se na direção do grito e podiam ver ali diante deles, Fionna sendo carregada por Ryan. Ambos bastante feridos. Fionna descia dos braços de Ryan. Corria na direção do pai, agarrando as vestes dele, enquanto via O’Reilly queimando e gritando.

– AJUDE-A!!! AJUDE-A!!! ELA ME DEU ISSO!!! ELA ME DEU ISSO PARA EU AJUDAR VOCÊS!!!

A pequena Fionna erguia a moeda de ouro. Os corações dos adultos começavam a perceber que O’Reilly podia ter falado a verdade todo aquele tempo.