O silêncio reinava naquele vilarejo. As crianças não sorriam como antes e os adultos mantinham-se sombrios em suas almas e corações. Algumas flores eram deixadas em um túmulo, cercado por pequenos potes de barros. Mas muitos não ousavam encarar o nome escrito na cruz que aquele túmulo continha. A vergonha se apoderava das almas daqueles que participaram dos atos violentos contra uma mulher que tinha sido inocente no desaparecimento das crianças. Lenhadores locais, assim como caçadores aos poucos descobriram os restos mortais das crianças que haviam sumido. Algumas atacadas pelos animais selvagens que aquela floresta continha. Outras acidentadas em locais traiçoeiros.
Ryan e Fionna teriam sido vítimas de uma matilha de lobos se não tivessem conseguido escapar e ainda choravam pela morte da Senhora O’Reilly.
– Ainda a veremos?
Perguntava Fionna em sua tristeza, abraçada ao irmão mais velho, com uma das mãos fechada.
– Não Fionna. Ela nunca mais voltará.
Murmurava de forma baixa mantendo a irmã entre seus braços, tentando acalentar o coração da pequena que ainda tinha esperanças de ver o sorriso da senhora que morreu diante deles.
– O que eu farei com esse dente, Ryan? Ela gostava tanto…
A pequena afastava o corpo do irmão abrindo a mão, deixando que ele visse o pequeno dente que ela segurava com tanta força.
– Sim ela gostava Fionna…
Ryan desliza o dedo sobre o pequeno dente. Pegando-o com cuidado. Olhando-o em meio ao marejar de seus olhos. Se culpava por não ter segurado Fionna. Por não ter feito ela esperar por seu pai. Com calma ele devolveu o dente à palma da mão de sua irmã mais nova, deixando que suas mãos fechassem a pequena mão dela em volta do dente.
– Fionna… A senhora O’Reilly estará sempre em nossos corações… Sempre.
Suspirava, mordendo os lábios para poder conter o choro, para se manter forte diante da irmã.
– Sei que ela sorriria ao ver seu dente e que ela trocaria por uma moeda de ouro. Ela era muito boa com todos nós.
Tentava manter a calma. Tentava não chorar, mesmo podendo ver a sombra do pai do lado de fora do quarto.
– Uhum… Vou guardar… Por ela…
A voz da pequena saía em meio ao soluçar do choro que ela também tentava conter. Ryan sorria, voltando a abraçar a irmã. Afagando-lhe os cabelos. Aos poucos a pequena Fionna adormecia no colo de seu irmãoe Ian adentrava no quarto. Pegava-a no colo, deitando-a depois na cama.
– O que você disse…
Ian não conseguia acabar de falar. Queria poder dizer que o que Ryan tinha dito era muito bonito, mas era uma ilusão manter essas idéias na cabeça da caçula. Mas ele não conseguia e sabia que o silêncio seria a melhor saída. Por um momento ele afagou a cabeça da filha mais nova. Olhando-a adormecida com a mão cerrada. Por um momento pensou em trazer um pouco de esperança à filha, fazendo o que a sra. O’Reilly fazia, mas sem que ela descobrisse que tinha sido ele quem tinha feito tal ato. Seus olhos se mantinham sobre o sono que estava sendo zelado.
– O que eu disse…
Seus pensamentos eram quebrados pela voz baixa do filho mais velho que parecia esperar o que ele tinha a dizer.
– Foi muito bonito Ryan. Obrigado.
Ryan se deitava e se mantinha em silêncio, ainda estava chateado com seu pai. Havia compreendido o que tinha acontecido com a senhora e ainda não conseguia perdoar seu pai por isso e Ian sabia disso. Retirava-se do quarto com os pensamentos mergulhados nas lembranças de seus atos, das palavras de seus filhos. Precisava falar com os outros pais antes, pois se fossem fazer o que tinha surgido em seus devaneios, aquela mentira teria que ser sustentada por todos. Mas como fazer para que as crianças não se aventurassem?
Para que elas não se arriscassem mais como seus filhos se arriscaram e como muitas outras se arriscaram.