Fionna podia ver as alegrias de outras crianças voltando. Escutava-as falando que a senhora das moedas de ouro ainda vivia. Escutava histórias dizendo que a senhora vinha enquanto dormiam e trocava o dente pela moeda, mas ela não conseguia ficar contente. Seu pai lhe contava, que a Senhora O’Reilly vinha durante o sono dos inocentes para pegar aquilo que ela tanto admirava. Mas também dizia que não gostava de ser vista, por conta do que havia acontecido a ela. Fionna se lembrava. Tinha medo. Medo de ver a senhora, bondosa e sorridente, transformada naquela figura que estremecia seu pequeno coração. Mais medo ela possuía quando os adultos diziam que a senhora levava as crianças que a viam quando ela trocava os dentespela moeda de ouro.
– Ela não seria capaz de fazer isso… Ela não faria isso…
Balançava a pequena cabeça de forma vigorosa, com os olhinhos apertados. Ryan ficava cada vez mais furioso por conta das mentiras contadas. Ian cada vez mais se arrependia da idéia que teve um dia. Estava perdendo o amor dos filhos, enquanto outras crianças pareciam se alegrar com a falsa esperança, mesmo tendo o medo em seus pequenos corações. Sentia medo das palavras profetizadas pela senhora que em seu leito de morte o amaldiçoou falando que ele perderia os filhos dele para ela. Mas ao menos as crianças não se arriscavam mais em entrar na floresta sem a companhia dos pais.
– Está tudo certo… Tudo há de ficar bem…
Falava para ele mesmo tais palavras, mergulhado em seus pensamentos e sua alma sombria. Mais dias, mais noites… Quantos dias seriam necessários para que seu martírio terminasse? Ian não sabia. Apenas escutava a mulher a reclamar que Fionna estava muito assustada. Escutava-a falando que a pequena não queria mais comer e que Ryan possuía rancor no olhar.
– Tudo há de ficar bem…
Repetia Ian, com esperança de que aquilo se tornasse verdade um dia. Mas a verdade parecia se distanciar cada vez mais. Fionna estava diante do túmulo da senhora que ela tanto admirava. Via aqueles potinhos de barro, tão diferenciados dos que a senhora possuía em sua casa.
– Está tudo errado… Tudo errado…
Zangava-se a pequena, saindo dali. Naquele dia ela entrou na floresta mais uma vez.
– Fionna!!! Fioooonnaaa!!!
Vinha a voz aflita da mãe mais uma vez. Ryan escutando os gritos de sua mãe teve seu coração a disparar.
– Não… Nããoo…
Corria o menino. Corria o máximo que podia. Como ele poderia se desatentar? Adentrava a Floresta Negra com o coração a galopar. Corria por trilhas que conhecia. Tinha que a encontrar. Mais aflita ficava a mãe que corria atrás do marido.
– IAN!!! IAN!!!
Ian virava o rosto na direção da mulher aflita.
– IAN!!! CORRA!!! CORRA!!! ELES ADENTRARAM NA FLORESTA!!!
Ian largava tudo para trás. Por mais que ele tivesse feito. Por mais que ele tenha imposto o medo. Mais uma vez seus filhos adentravam na Floresta Negra. Lembrava-se dos corpos encontrados. Lembrava-se do que tinha feito à senhora. Lembrava-se da maldição.
– Seus filhos serão meus…