A calma era tão grande. O medo tinha sumido de sua alma e de seu coração. Ryan moldava um pote de barro sentindo aquela brisa que soprava seus cabelos, que secava o barro firmando a forma do pote que ele fazia. Fionna ria e brincava de girar, esperando o irmão fazer o pote com a ajuda da Sra. O’Reilly que estava tão visível aos seus olhos. Achava bonito o modo em que a senhora apoiava as mãos sobre as de Ryan, enquanto cantava aquela canção. Ian implorava a todos os deuses que os filhos ainda estivessem vivos.

Implorava para que aquela senhora não levasse seus filhos. De joelhos e com o corpo sangrando, o corpo de Ian queimava e seus delírios aumentavam com as visões que assombravam sua mente. Seus fantasmas pareciam ganhar forças no dilaceramento de sua alma. Antes ele pudesse voltar no tempo. Antes ele tivesse tido um pouco mais de calma e não tivesse sido levado pela raiva achando que aquela mulher tinha matado seus filhos e todas as crianças.

– Por favor! Por favor!

As lágrimas rolavam no rosto daquele homem, que sentia o sangue quente molhar as roupas que foram rasgadas pelas árvores e arbustos daquela floresta amaldiçoada.

– Não leve meus filhos!

Ian tentava erguer seu corpo, para tentar mais uma vez procurar seus filhos. Ryan via o pote moldado com seu nome escrito. Aproximava-se com calma de Fionna e mostrava para a pequena que ficava mais feliz. Ryan então observava a casa queimada. As lembranças o remetiam há um dia. Um dia em que tudo mudou para a vida dos jovens. Ryan se lembrava daquele dia em que a Sra. O’Reilly tinha sido morta de forma cruel e covarde. Lembrava-se das mentiras contadas pelos adultos. Lembrava-se da pequena irmã que rodeava ele a cantarolar enquanto os dentes que ela guardou no pote lembravam os sons de guizos, que embalavam a sombria música que ela cantava.Ian chegava ao local. Seus olhos se assombravam ao ver a filha rodeando o irmão e cantando uma música que gelava o seu coração. Quis gritar mas sua voz, parecia não querer sair. Ryan olhava para a casa e Ian podia notar o quão longe o filho estava em seus pensamentos. Mas o que mais o assombrou, foi ver Ryan em um momento de raiva quebrar um pote com as próprias mãos.

Foi sentir aquela dor aguda em seu coração, como se o quebrar do pote lançasse os cacos e estes rasgassem seu coração. Foi ver a Sra. O’Reilly se aproximar dele e tocar o seu rosto.

– Perdoe-me!

Os lábios sussurravam, enquanto ele observava os olhos daquela senhora que deslizou sua mão suavemente sobre seus olhos para fechá-los e trazer um pouco de escuridão. Não havia mais dor. Ian não sentia mais dor. Não sentia mais o sangue que escapava de suas feridas ser derramado por seu corpo. Não sentia mais a angústia de um amaldiçoado.

Ryan erguia parte do corpo do pai e o abraçava. Balançava o corpo devagar, enquanto seu rosto se mantinha sério. Algumas lágrimas escapavam de seus olhos e Fionna sorria.

– Ele ficará bem, Ryan!

Ryan suspira fechando os olhos, escutando as palavras da irmã e então recosta o corpo do pai no chão. Erguendo-se, pegava a mão de sua irmã.

Estava na hora de voltar.

– “Cheguem em casa antes de escurecer”!