Entrega era o que aquela pessoa queria e uma entrega como nunca vista é o que ela teria e com os olhos presos aos verdes que ardiam em paixão, girou um punhal e cravou ao próprio coração.

As mãos, de quem o desafiara, estremeceram, e passos foram dados para trás em busca dos braços que antes a cercavam.

Sentia o sabor intenso e quente aos lábios e em gemidos contidos rasgava o peito. Seus olhos por nenhum momento desvencilharam e mesmo em meio à dor, sorria na certeza do que era feito.

Pulsante, vermelho e intenso, arrancava do próprio peito o amor que lhe assolara o coração e mesmo vendo confusão àqueles olhos tão belos, estendera em suas duas mãos a entrega à pessoa que lhe aprisionara.

– Nenhuma entrega seria completa sem que eu lhe desse o meu coração.

Sussurrou enquanto sentia o ódio crescendo não aos olhos para quem se entregara, mas aos olhos de quem tinha o amor que ele tanto desejava.

Ao longe fora atirado aquele coração pelo outrem que amava a mesma pessoa com tamanha intensidade.

Retirada de forma rápida para que esquecesse aquela entrega, ela partira, olhando para trás, vendo aquele ser que antes parecia tão vivo se entristecer.

– Perdoe-me condena-lo à tamanha dor intensa.

Pegando seu coração, enegrecido, sujo, mas ainda pulsante e vivo, escutou as palavras trazidas pelo vento e acariciando aquilo que não mais lhe pertencia murmurou para a Lua, sua única amiga.

– O que seria do amor, se não houvesse tamanha entrega? Tornar-se-ia uma prisão de lágrimas e dores. Por isso arranquei meu coração a ti, formosa donzela, pois a liberdade é a solidão e por mais que eu venha sofrer, por mais que eu saiba que teu amor pertence a outrem e não ao meu coração…

Uma batida forte é dada a uma porta e com as mãos trêmulas um coração fincado a uma adaga é retirado da madeira. Às sombras ele pode observar aqueles olhos preocupados a lhe buscar e desvencilhando os olhos com a mão ao peito murmura seu prantear.

– Meu coração pertence e sempre pertencerá a ti.